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segunda-feira, janeiro 30, 2006

Resenha no Idéias

Sábado foi publicada a primeira resenha do Contos sobre Tela:


A escrita das imagens

Coletânea de narrativas a partir de obras de arte sugere um exercício lúdico de leitura


Henrique Rodrigues

Escritor


No romance de José Saramago, Manual de pintura e caligrafia, o narrador-personagem transita do mundo da pintura para o literário, relatando algumas fronteiras marcadas pelas diferentes necessidades de representação. Ao refletir sobre essa transcendência, afirma: ''Brinco com as palavras como se usasse as cores e as misturasse ainda na paleta. Mas em verdade direi que nenhum desenho ou pintura teria dito, por obras de minhas mãos, o que até este preciso instante fui capaz de escrever, e atrever''. A comparação indica que retrato pode, ainda que com suas limitações diante da escrita, sugerir de uma história - ou mais de uma -, como o instantâneo de uma linha contínua que o observador pode, a partir de seu conjunto internalizado de narrativas, puxar e reconstruir.

E quando quem observa é um escritor, essas possibilidades tendem a ser exploradas das formas mais inusitadas. É o caso da coletânea Contos sobre tela, que acaba de sair pelas Edições Pinakotheke. O escritor carioca Marcelo Moutinho convidou outros 15 autores de diversas partes do país com o desafio de escreverem um conto baseado numa pintura ou escultura de um artista plástico brasileiro. Como em toda antologia desse tipo, são fornecidas amostras da literatura que vem sendo produzida pela geração atual, ainda que dentro dos limites de uma temática pré-estabelecida.

Como já afirma José Castello no prefácio, ''os contos são acima de tudo um exercício dos jovens autores''. Ao associar esses textos às imagens do início do livro, o leitor recria uma parte desse mesmo exercício. Os diferentes modos de escrita - pois estamos falando de uma geração cuja peculiaridade é o desprendimento de um todo, seja cronológico, seja de estilo, seja de temática - permitem uma leitura também diversificada no que se refere ao estabelecimento de relações entre o conto e o respectivo quadro.

Desse modo, alguns contos têm um fio sutil e alegórico que os liga à obra de arte correspondente, como no poético ''A sala dos pássaros'', de João Paulo Cuenca, numa narrativa docemente trágica acerca da morte, a partir da obra do pintor cearense Leonilson. Em outros casos, como no ótimo ''Enquadramento'', de Adriana Lunardi, a tela de Pedro Weigärtner funciona apenas como o retrato de uma situação narrada. Já em ''A carioca'', de Antônio Mariano, a história é justamente sobre a suposta modelo que posou para o quadro homônimo de Pedro Américo, em 1882. Esse tipo de relação, na qual a descrição das imagens se integra à narrativa, ocorre em boa parte dos contos. Desse grupo, merece destaque ''A muda carne das coisas'', de Luciano Trigo, que criou a partir de ''Azulejaria em carne viva'', da carioca Adriana Varejão, uma narrativa na qual a carne, numa representação dos conflitos humanos, salta por detrás dos das calmarias ilusórias: ''Mas de dentro vem o cheiro das tripas do azulejo: a carne, o sangue que palpita por trás das cerâmicas impolutas, que se racham e deixam ver a vida, o esforço, a dor''. O texto de Marcelo Moutinho, baseado em ''Tudo te é falso e inútil'', de Iberê Camargo, apresenta uma história na qual todos os objetos desaparecem diante dos olhos do protagonista: ''Porque o precário é escuro, e B. cismou que precisava do escuro para, por contraste, ter luz própria''. Ao lançar mão desse recurso, a narrativa se converte num tipo inverso de simulação, da qual a perspectiva da realidade é revelada - no sentido de ser descoberta e velada novamente.

O conto de Flavio Izhaki, ''Apenas eco'', escrito a partir do quadro ''Moças'', de Di Cavalcanti, é o que encontra a mais equilibrada realização da proposta do livro, ao estabelecer uma dança imagético-textual ao longo da narrativa sobre as reminiscências sexuais da vida de uma mulher: ''Crescer foi borrar-me aos poucos, desatar o laço que as mãos fazem com os joelhos, desapegar de mim para outro, para outros. Romper os limites negros da fronteira com o mundo, inundar de vermelho o branco enevoado da vida adulta''. O início da história, em que o desassombro da narradora é transmitido a partir das suas sensações cromáticas, pode representar, por metonímia, a idéia de toda a coletânea.

É muito comum encontrar personagens de ficção recriados em quadros, esculturas ou em instalações. Mas o oposto também é possível. Contos sobre tela é um exemplo de que a arte da escrita pode beber de outras fontes, sobre as quais repousa ou se esconde uma história a ser narrada. Trata-se, portanto, de uma possibilidade de transfiguração de manifestações artísticas em que a que a literatura, com sua concisão e abertura simultâneas, estabelece com o leitor uma espécie de jogo de imagens e palavras.

terça-feira, janeiro 17, 2006

The site next door

Tô fazendo mudanças nos links ao lado. Visitem os meus vizinhos se tiverem um tempinho.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Saiu na Folha SP no sábado

Vitrine Brasileira

Contos
CONTOS SOBRE TELA
VÁRIOS
SOBRE OS AUTORES: Escritores renomados como Fabrício Carpinejar, Nelson de Oliveira, Luciano Trigo, Arnaldo Bloch e Pedro Süssekind, entre outros.

TEMA: Autores assinam contos baseados em obras de artistas plásticos como Portinari, Ismael Nery, Guignard, Pancetti, Iberê Camargo, Milton Dacosta e Leonilson, entre outros.

POR QUE LER: Interessante compilação de autores que escrevem textos a partir de trabalhos de inquestionável qualidade, como "Moças", de Di Cavalcanti, que se tornou o surpreendente conto "Apenas Eco", do jovem Flávio Izhaki.

EDITORA: Pinakotheke. ORGANIZAÇÃO: Marcelo Moutinho. QUANTO: R$ 39 (144 págs.)

quinta-feira, janeiro 05, 2006

A Paixão de Amâncio Amaro

Saiu nesta quinta-feira, no Jornal do Brasil, uma resenha que fiz sobre o excelente livro de estréia do pernambucano André Laurentino, A Paixão de Amâncio Amaro.

Trata-se de um livro absolutamente lírico. O autor consegue mesclar o bom humor com as dores de seus personagens. Recomendo como um dos melhores livros brasileiros de 2005.

"Não bastasse um trabalho de caracterização tão maduro para um livro de estréia, Laurentino, que tem 33 anos, ainda extrapola, já que o ponto alto do livro, sem dúvida, é a linguagem, o esmero na escolha das palavras, o encadeamento das frases, a beleza da sonoridade do local. Laurentino não tem vergonha de misturar passagens absolutamente líricas com diálogos com erros de português."

Para ler a resenha inteira, clique aqui.

terça-feira, janeiro 03, 2006

2006 começa bem



Com alegria que coloco aqui a matéria que saiu publicada nesta terça-feira, 3 de janeiro, no Megazine, caderno do jornal O Globo. Cinco jurados foram ouvidos para a escolha de um escritor promessa para 2006 e a maioria votou em mim. Obrigado aos cinco, independente do voto (João Paulo Cuenca, Augusto Sales, Gustavo Bernardo, Beatriz Resende e Manya Millen - esta especialmente, pois me informaram que foi quem indicou os nomes), e parabéns aos outros quatro (Diana de Hollanda, Ana Paula Maia, Simone Campos e Omar Salomão).

Como está dito na ótima matéria escrita pelo Bruno Porto, que conseguiu contar tanta coisa em poucas linhas, estou terminando meu primeiro livro. Ainda estou atrás de editora...


'Futebol, literatura e drible no oba-oba'


'Flávio Izhaki é apaixonado por literatura e futebol. Por causa da segunda paixão, começou a trabalhar num site esportivo em 2002. Uma de suas atribuições era escrever uma coluna sobre times do Rio Grande do Norte e de Sergipe. Detalhe: Flávio nunca viu um time desses estados em campo.

- Como os canais do Rio não passam os jogos de lá, eu escrevia a coluna a partir de entrevistas com os técnicos e os jogadores dos times - lembra ele, rindo.

Recentemente, Flávio, de 26 anos, abandonou o jornalismo e decidiu se dedicar só à literatura. Mais especificamente, ao seu primeiro romance. O livro, ainda sem título, não será a estréia do carioca no mundo editorial. Lançadas em 2004 e em 2005, respectivamente, as coletâneas 'Paralelos' (Editora Agir) e 'Contos sobre tela' (Edições Pinakotheke) trazem contos seus.

Ambos falam de solidão e contam com uma linguagem simples e ainda assim poética e áspera. O romance, que deve ficar pronto este mês, é sobre um escritor que lançou um livro que não deu certo.

- O personagem muda de cidade e um dia acha num sebo um exemplar do livro, cheio de anotações. Ele decide encontrar a pessoa que fez as anotações e retomar sua vida do ponto onde ela parou anos antes - conta Flávio.

Admirador do escritor franco-argelino Albert Camus ('Gosto da personalidade e da honestidade dele'), Flávio diz que atualmente muita gente escreve para 'virar artista'.

- É importante fazer o nome circular, mas tem gente que só quer aparecer - critica ele, que se define 'desempolgado com o oba-oba'.

Autor de 'Corpo presente', o escritor João Paulo Cuenca elogia o senso crítico de Flávio.

- Além do talento, chama a atenção o seu compromisso com o que faz. Isso certamente o faz destoar de outros escritores da nossa geração, que às vezes estão mais preocupados com a foto no jornal do que com a literatura que produzem - diz Cuenca.'

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