segunda-feira, fevereiro 06, 2006
Livro quase pronto, casa nova, mas ainda sem emprego. Tempo para fazer resenhas. Essa é sobre Muito Louco, livro do alemão Benjamin Lebert. Saiu nesta segunda, 6 de fevereiro, no JB.
Fórmula batida
'Muito Louco' é uma reescrita pálida do 'Apanhador' de J.D. Salinger
Adolescentes desajustados fogem do colégio interno com objetivo de curtir a vida. Este é o argumento - que está longe de ser inédito - de Muito louco (Rocco), primeiro livro do alemão Benjamin Lebert. As peripécias do personagem homônimo do autor e seus amigos de internato foram um best-seller na Alemanha, em 1999, e geraram até um filhote, o filme Crazy (título original do livro), lançado em 2000, exibido no Festival do Rio de 2002.
Saído do mesmo molde do espetacular O apanhador no campo de Centeio, de J.D. Salinger, Muito louco fica a luz da aventura adolescente mais famosa da literatura mundial.
Benni, o protagonista e narrador, sofre de paralisia na parte esquerda do corpo (braços e pernas) e depois de sucessivas repetências no colégio, por este e outros motivos, é mandado pelos pais para um internato de adolescentes com algum nível de dificuldade de aprendizado.
Lá conhece cinco amigos, liderados pelo companheiro de quarto Janosch (este sim uma espécie de Holden Caulfield menor). Em grande parte do tempo, o grupo pensa em garotas, cervejas, cigarros e diversão. Nestes capítulos o livro sustenta certo êxito, entre aventuras na ala feminina do internato e bebedeiras.
No entanto, quando o autor tenta colocar na história as indagações morais e filosóficas que todo adolescente atravessa, erra feio na mão. As discussões soam falsas e os personagens alternam as falas de maneira improvável, como um coro de seis vozes em que, apesar da rubrica, não se é possível captar personalidades críveis.
''De qualquer forma, os filósofos são todos uns babacas. Eles pensam que precisam explicar tudo. Na verdade não há nada para ser explicado. Eles só precisam olhar o mundo ao seu redor. Então, eles saberão que tudo é imensamente belo. Suas frases são imbecis''.
Lebert naufraga também no estilo da escrita. As frases são excessivamente curtas, quase telegráficas, o que torna a leitura por vezes cansativa. Peca também pelo desmedido número de referências americanas (seria um sintoma da influência de Salinger?), expressões e ícones pops especialmente, ao invés de situar melhor a história na Alemanha dos dias de hoje. Neuseelen, local do internato, e Munique, para onde os jovens viajam, soam como um subúrbio de Nova Iorque dos anos 50.
Muito louco é um livro escrito por e dirigido a adolescentes - Lebert tinha impressionantes 17 anos quando o publicou. É um passo natural para a geração que está crescendo lendo Harry Potter e quer trocar a magia por um punhado de realidade. Mas se na mesma livraria tiver O apanhador, não hesitem. (Flávio Izhaki)
Fórmula batida
'Muito Louco' é uma reescrita pálida do 'Apanhador' de J.D. Salinger
Adolescentes desajustados fogem do colégio interno com objetivo de curtir a vida. Este é o argumento - que está longe de ser inédito - de Muito louco (Rocco), primeiro livro do alemão Benjamin Lebert. As peripécias do personagem homônimo do autor e seus amigos de internato foram um best-seller na Alemanha, em 1999, e geraram até um filhote, o filme Crazy (título original do livro), lançado em 2000, exibido no Festival do Rio de 2002.
Saído do mesmo molde do espetacular O apanhador no campo de Centeio, de J.D. Salinger, Muito louco fica a luz da aventura adolescente mais famosa da literatura mundial.
Benni, o protagonista e narrador, sofre de paralisia na parte esquerda do corpo (braços e pernas) e depois de sucessivas repetências no colégio, por este e outros motivos, é mandado pelos pais para um internato de adolescentes com algum nível de dificuldade de aprendizado.
Lá conhece cinco amigos, liderados pelo companheiro de quarto Janosch (este sim uma espécie de Holden Caulfield menor). Em grande parte do tempo, o grupo pensa em garotas, cervejas, cigarros e diversão. Nestes capítulos o livro sustenta certo êxito, entre aventuras na ala feminina do internato e bebedeiras.
No entanto, quando o autor tenta colocar na história as indagações morais e filosóficas que todo adolescente atravessa, erra feio na mão. As discussões soam falsas e os personagens alternam as falas de maneira improvável, como um coro de seis vozes em que, apesar da rubrica, não se é possível captar personalidades críveis.
''De qualquer forma, os filósofos são todos uns babacas. Eles pensam que precisam explicar tudo. Na verdade não há nada para ser explicado. Eles só precisam olhar o mundo ao seu redor. Então, eles saberão que tudo é imensamente belo. Suas frases são imbecis''.
Lebert naufraga também no estilo da escrita. As frases são excessivamente curtas, quase telegráficas, o que torna a leitura por vezes cansativa. Peca também pelo desmedido número de referências americanas (seria um sintoma da influência de Salinger?), expressões e ícones pops especialmente, ao invés de situar melhor a história na Alemanha dos dias de hoje. Neuseelen, local do internato, e Munique, para onde os jovens viajam, soam como um subúrbio de Nova Iorque dos anos 50.
Muito louco é um livro escrito por e dirigido a adolescentes - Lebert tinha impressionantes 17 anos quando o publicou. É um passo natural para a geração que está crescendo lendo Harry Potter e quer trocar a magia por um punhado de realidade. Mas se na mesma livraria tiver O apanhador, não hesitem. (Flávio Izhaki)