terça-feira, abril 24, 2007
Eu que atravessei a adolescência inteira sem ter nenhuma banda favorita, estou profundamente chocado com o anúncio do fim do Los Hermanos. Como fã incondicional, respeito a decisão dos integrantes sem levantar a voz. Mas que é uma tristeza...
Dias 8 e 9 de junho eles farão um show-réquiem na Fundição. Espero que cantem essa música.
Mais uma canção
Composição: Marcelo Camelo e R. Amarante
Nada vai mudar entre nós
Como eu sei? Eu só sei
Tudo vai permanecer igual
Afinal
Não há nada a fazer
Eu não nego. Eu me entrego
Você é meu grande amor
E hoje eu vou te dizer "eu te amo”
Eu imploro. Eu te adoro.Você tem meu coração
A bater pra você mais uma canção
Como pode alguém perder você Como eu fiz?
Como eu quis não te ter?
Vivo iludido a acreditar que o amor
Não se pôs em você
Eu me entrego, eu não nego
Eu errei, mas sou capaz, de fazer sua vida melhor
Tô voltando, não sei quando
Pra roubar teu coração
Vou chegar no final de mais uma canção
Dias 8 e 9 de junho eles farão um show-réquiem na Fundição. Espero que cantem essa música.
Mais uma canção
Composição: Marcelo Camelo e R. Amarante
Nada vai mudar entre nós
Como eu sei? Eu só sei
Tudo vai permanecer igual
Afinal
Não há nada a fazer
Eu não nego. Eu me entrego
Você é meu grande amor
E hoje eu vou te dizer "eu te amo”
Eu imploro. Eu te adoro.Você tem meu coração
A bater pra você mais uma canção
Como pode alguém perder você Como eu fiz?
Como eu quis não te ter?
Vivo iludido a acreditar que o amor
Não se pôs em você
Eu me entrego, eu não nego
Eu errei, mas sou capaz, de fazer sua vida melhor
Tô voltando, não sei quando
Pra roubar teu coração
Vou chegar no final de mais uma canção
quinta-feira, abril 19, 2007
Liviu, Levi
Liviu Librescu ouviu os gritos, depois os tiros. Muitos. Em seguida o silêncio, as risadas. As mesmas risadas. E o silêncio, passos vindo em direção a sua sala de aula.
Professor de engenharia, com especialização em aeronáutica, da faculdade de Virginia Tech, Liviu L. tinha apenas alguns segundos. Poderiam ser centésimos; ele sabia o que deveria ser feito.
Sobrevivente do Holocausto, um dos poucos que viveram para contar o extermínio de judeus e outras minorias pelos nazi-fascistas na Segunda Guerra Mundial, Liviu L. trancou a sala onde dava aula para sua turma de aterrorizados jovens de 20 anos.
Ele, de 75, soube já aos 10 que uma pessoa pode matar a outra sem motivo. Descobriu na marra como sobreviver numa situação dessas. Minto. E aí estaria colocando em heroísmo algo que não sei se cabe em molde tão límpido.
Os gritos, os tiros, o silêncio, as risadas, os passos vem cobrar dele, somente dele, uma dívida. É a morte, 60 anos depois.
Liviu L. não precisa de muito tempo. Tranca a porta e cola seu corpo nela, fazendo toda força nas pernas e no tronco para agüentar as pancadas que virão.
“Corram, fujam pela janela.” A ordem aqui confusa deve ter sido clara para aqueles alunos aterrorizados. Fujam! E todos levantam, em pânico, abrem as janelas e começam a evacuar a sala. Mais gritos, mais passos. Talvez neste momento a primeira pancada, chute na porta.
Fujam, ele deve ter gritado outra vez, fazendo força contra a porta. Nova pancada, essa mais pesada. A porta quase cede. É a morte que vem me cobrar uma dívida, ele deve ter pensado nesse segundo em que Cho Seung-Hui deu dois passos para trás e disparou o primeiro tiro, que atravessou a porta e o acertou na barriga.
Os alunos saltando pela janela, os olhos de Liviu L. nublando, as forças na perna sumindo. O corpo cansado, baleado, se curva. O cheiro de pólvora que ele reconhece. O cheiro de sangue que ele reconhece. O cheiro de carne queimada.
Com um chute de C.S-H a porta voa, atinge o corpo de Liviu L., que cai no chão. O silêncio. A morte entra na sala e leva apenas ele, com dois tiros no coração.
*
É preciso, então, lembrar de outro sobrevivente do Holocausto, de Auschwitz: Primo Levi. O químico italiano passou anos em campos de concentração durante a Segunda Guerra, e depois em campos de refugiados numa Europa confusa, pobre e destruída.
Primo viu a morte levar quase todos em sua volta naqueles três ou quatro anos que viveu de pesadelo, sangue, lama, fome, frio, humilhação e doença. Sobreviveu para contar. De químico, ocupação que o ajudou a não morrer diversas vezes no campo à escritor. Uma profissão útil, que o salvou, de repente sem sentido. E o que restou foi escrever. Livro sensacionais e definitivos como A trégua e É isso um homem?.
Mas uma hora as distantes paredes entre religião, acreditar que tudo, mesmo um massacre, tem sentido, e a total negação da vida se aproximam e esmagam uma pessoa. Para Levi deve ter sido assim, e com 68 anos, em 1987, 40 depois de sobreviver ao Holocausto, escrever livros contando tudo que viu e viveu, o italiano se suicidou, ainda se perguntado por que ele, e não outro, sobreviveu.
Liviu L. não tinha talento para escrever, contar. Passou os últimos 60 anos estudando e dando aulas de engenharia na Romênia, Israel e, nos últimos vinte anos, nos EUA. Para ele estar ali, naquele momento exato que precedeu os gritos, os tiros, as risadas, as mesmas risadas, os passos, os gritos e o cheiro de pólvora e sangue, alguém segurou uma porta para ele sobreviver, alguém escreveu livros e matérias para ele sobreviver, alguns até mataram e se mataram para ele sobreviver. E naquele segundo antes da morte vir cobrar a sua dívida, ele entendeu tudo isso.
*
Este texto nasceu de uma conversa com a minha mãe sobre o atentado; à ela, que já segurou muitas portas para mim, eu agradeço.
Liviu Librescu ouviu os gritos, depois os tiros. Muitos. Em seguida o silêncio, as risadas. As mesmas risadas. E o silêncio, passos vindo em direção a sua sala de aula.
Professor de engenharia, com especialização em aeronáutica, da faculdade de Virginia Tech, Liviu L. tinha apenas alguns segundos. Poderiam ser centésimos; ele sabia o que deveria ser feito.
Sobrevivente do Holocausto, um dos poucos que viveram para contar o extermínio de judeus e outras minorias pelos nazi-fascistas na Segunda Guerra Mundial, Liviu L. trancou a sala onde dava aula para sua turma de aterrorizados jovens de 20 anos.
Ele, de 75, soube já aos 10 que uma pessoa pode matar a outra sem motivo. Descobriu na marra como sobreviver numa situação dessas. Minto. E aí estaria colocando em heroísmo algo que não sei se cabe em molde tão límpido.
Os gritos, os tiros, o silêncio, as risadas, os passos vem cobrar dele, somente dele, uma dívida. É a morte, 60 anos depois.
Liviu L. não precisa de muito tempo. Tranca a porta e cola seu corpo nela, fazendo toda força nas pernas e no tronco para agüentar as pancadas que virão.
“Corram, fujam pela janela.” A ordem aqui confusa deve ter sido clara para aqueles alunos aterrorizados. Fujam! E todos levantam, em pânico, abrem as janelas e começam a evacuar a sala. Mais gritos, mais passos. Talvez neste momento a primeira pancada, chute na porta.
Fujam, ele deve ter gritado outra vez, fazendo força contra a porta. Nova pancada, essa mais pesada. A porta quase cede. É a morte que vem me cobrar uma dívida, ele deve ter pensado nesse segundo em que Cho Seung-Hui deu dois passos para trás e disparou o primeiro tiro, que atravessou a porta e o acertou na barriga.
Os alunos saltando pela janela, os olhos de Liviu L. nublando, as forças na perna sumindo. O corpo cansado, baleado, se curva. O cheiro de pólvora que ele reconhece. O cheiro de sangue que ele reconhece. O cheiro de carne queimada.
Com um chute de C.S-H a porta voa, atinge o corpo de Liviu L., que cai no chão. O silêncio. A morte entra na sala e leva apenas ele, com dois tiros no coração.
*
É preciso, então, lembrar de outro sobrevivente do Holocausto, de Auschwitz: Primo Levi. O químico italiano passou anos em campos de concentração durante a Segunda Guerra, e depois em campos de refugiados numa Europa confusa, pobre e destruída.
Primo viu a morte levar quase todos em sua volta naqueles três ou quatro anos que viveu de pesadelo, sangue, lama, fome, frio, humilhação e doença. Sobreviveu para contar. De químico, ocupação que o ajudou a não morrer diversas vezes no campo à escritor. Uma profissão útil, que o salvou, de repente sem sentido. E o que restou foi escrever. Livro sensacionais e definitivos como A trégua e É isso um homem?.
Mas uma hora as distantes paredes entre religião, acreditar que tudo, mesmo um massacre, tem sentido, e a total negação da vida se aproximam e esmagam uma pessoa. Para Levi deve ter sido assim, e com 68 anos, em 1987, 40 depois de sobreviver ao Holocausto, escrever livros contando tudo que viu e viveu, o italiano se suicidou, ainda se perguntado por que ele, e não outro, sobreviveu.
Liviu L. não tinha talento para escrever, contar. Passou os últimos 60 anos estudando e dando aulas de engenharia na Romênia, Israel e, nos últimos vinte anos, nos EUA. Para ele estar ali, naquele momento exato que precedeu os gritos, os tiros, as risadas, as mesmas risadas, os passos, os gritos e o cheiro de pólvora e sangue, alguém segurou uma porta para ele sobreviver, alguém escreveu livros e matérias para ele sobreviver, alguns até mataram e se mataram para ele sobreviver. E naquele segundo antes da morte vir cobrar a sua dívida, ele entendeu tudo isso.
*
Este texto nasceu de uma conversa com a minha mãe sobre o atentado; à ela, que já segurou muitas portas para mim, eu agradeço.
domingo, abril 15, 2007
Minuto-a-minuto
Depois do sucesso da coluna do Gol Mil do Romário, temos agora a cobertura exclusiva do Miss Brasil 2007, realizado no sábado, com transmissão da Band.
Depois do sucesso da coluna do Gol Mil do Romário, temos agora a cobertura exclusiva do Miss Brasil 2007, realizado no sábado, com transmissão da Band.
quinta-feira, abril 12, 2007
O novo blog está lançado. O Gol Mil acumulou!
quarta-feira, abril 11, 2007
Bem-amigos-da-redeglobo: enquanto a boa notícia não vem, qualquer uma, criei outro blog, bem diferente do Bohemias. A primeira coluna - chamaremos assim, por enquanto - será uma cobertura exclusiva da tentativa número 3 do gol 1000 do Romário no clássico de hoje contra o Botafogo.
Amanhã coloco o link para o texto, um diário minuto-a-minuto da transmissão da Globo.
Amanhã coloco o link para o texto, um diário minuto-a-minuto da transmissão da Globo.
segunda-feira, abril 02, 2007
Todos os dias ele chega no trabalho, senta, liga o computador e espera a boa notícia. Olha pela janela: faz sol – e a boa notícia? Atende o telefone – alô, e a boa notícia? É chamado para reuniões, almoços, eventos, acumula esperanças que não serão concretizadas. Ainda não, pensa. Chega em casa, o corpo moído, a testa enrugada, a caspa do dia depositada nos ombros caídos, e procura na correspondência a boa notícia. Ela virá quando eu menos esperar, pensa, mas pensando espera, e esperando ela não vem. A mulher nem mais pergunta para evitar os olhares tristes, casmurros do marido. Os amigos não puxam mais o assunto, esqueceram, talvez só ele se lembre que está esperando a notícia, a boa notícia.
O cachorro abanando o rabo não é a boa notícia.
Todos os dias ele acorda esperando que essa seja a manhã da boa notícia. Procura sinais positivos, as menores diferenças na rotina, uma série de sinais verdes no caminho, placas com final 0 em seqüência – mesmo não acreditando, até consulta o horóscopo (por dezenas de vezes já leu em seu signo que receberia naquele dia a boa notícia).
A boa notícia virá hoje, ele pensa, ao passar debaixo da escada, ver um gato preto numa sacada; entra de pé esquerdo no trabalho, novo artifício – e então: vem cá na minha sala, um post it do chefe pregado no teclado do computador.
Ele tem certeza que sim, agora vai receber a boa notícia, o sorriso do outro não engana, as rugas espraiando-se pelos olhos não mentem, as mãos trabalhando na consulta de papéis não dissimulam.
Lá vem!
Todos os dias ele espera a boa notícia. Há meses espera a boa notícia, anos. Já recebeu de tantos outros... foi porta-voz de tantas boas-notícias. De ruins também, mas isso releva. Faz parte de seu trabalho dar notícias desagradáveis.
Mas para ele a boa notícia nunca chega. É algo que não se materializa. Há tanto tempo ele espera que não deseja mais, apenas espera para que o dia tenha algum sentido, para que os comprimentos alheios escondam algum significado, esperança.
Todos os dias ele espera pela boa notícia. Só não sabe, ainda, qual seria. Mas quando receber, saberá.
Até lá, espera.
O cachorro abanando o rabo não é a boa notícia.
Todos os dias ele acorda esperando que essa seja a manhã da boa notícia. Procura sinais positivos, as menores diferenças na rotina, uma série de sinais verdes no caminho, placas com final 0 em seqüência – mesmo não acreditando, até consulta o horóscopo (por dezenas de vezes já leu em seu signo que receberia naquele dia a boa notícia).
A boa notícia virá hoje, ele pensa, ao passar debaixo da escada, ver um gato preto numa sacada; entra de pé esquerdo no trabalho, novo artifício – e então: vem cá na minha sala, um post it do chefe pregado no teclado do computador.
Ele tem certeza que sim, agora vai receber a boa notícia, o sorriso do outro não engana, as rugas espraiando-se pelos olhos não mentem, as mãos trabalhando na consulta de papéis não dissimulam.
Lá vem!
Todos os dias ele espera a boa notícia. Há meses espera a boa notícia, anos. Já recebeu de tantos outros... foi porta-voz de tantas boas-notícias. De ruins também, mas isso releva. Faz parte de seu trabalho dar notícias desagradáveis.
Mas para ele a boa notícia nunca chega. É algo que não se materializa. Há tanto tempo ele espera que não deseja mais, apenas espera para que o dia tenha algum sentido, para que os comprimentos alheios escondam algum significado, esperança.
Todos os dias ele espera pela boa notícia. Só não sabe, ainda, qual seria. Mas quando receber, saberá.
Até lá, espera.