quarta-feira, maio 30, 2007
Piscar
Por um momento piscar foi ver o mundo com os seus olhos, e descobri uma nova forma de enxergar os sentimentos, as coisas palpáveis, a distância entre a cadeira e a cama, meu amor e o seu; estar sob seus olhos por segundos foi o bastante para te amar muito mais depois que pisquei novamente e de novo estes meus olhos castanhos, cinzas, mas agora com um tom mais sereno, de outro matiz, e você dorme ao meu lado com uma réstia de olhos abertos e o verde, azul, amarelo, que escorrem deles espelham um sonho confuso e diminuto; me aproximo e seu sonho é uma criança correndo e abraçando meu pai, seus olhos refletem para o meu ver, e nele uma criança pequena, ainda mais cabeça que o resto do corpo, corre pelo nosso futuro apartamento atrás de uma bolinha de espuma e vejo tudo isso numa perspectiva de um olhar que roda pela sala e vai em outra direção; vejo o nosso filho, tem seu jeito, mas parece com o meu pai, e você beija e aperta a bochecha de uma criança que já existe sem precisar nascer; você dormindo reflete um sonho para os meus olhos abertos, e então entendo que talvez não tenha sido eu quem tenha entrado no seu corpo por segundos, e tenha entendido um pouco mais sobre mim; você que entrou no meu corpo e, altruísta, externou meus próprios segredos sem roubá-los para ti. A ternura desta descoberta só me fez te amar mais, e menos tenho medo do futuro - mas ainda tenho muito; um sonho bom, filho, pai, me deixa uma réstia de felicidade que seus olhos piscando, o fim do sonho refletido, não destrói. Então você acorda sorrindo e te beijo, beijo, beijo, e você não precisa perguntar nada, jamais, pois o amor que meus olhos refletem é o seu, que conheces tão bem.
Por um momento piscar foi ver o mundo com os seus olhos, e descobri uma nova forma de enxergar os sentimentos, as coisas palpáveis, a distância entre a cadeira e a cama, meu amor e o seu; estar sob seus olhos por segundos foi o bastante para te amar muito mais depois que pisquei novamente e de novo estes meus olhos castanhos, cinzas, mas agora com um tom mais sereno, de outro matiz, e você dorme ao meu lado com uma réstia de olhos abertos e o verde, azul, amarelo, que escorrem deles espelham um sonho confuso e diminuto; me aproximo e seu sonho é uma criança correndo e abraçando meu pai, seus olhos refletem para o meu ver, e nele uma criança pequena, ainda mais cabeça que o resto do corpo, corre pelo nosso futuro apartamento atrás de uma bolinha de espuma e vejo tudo isso numa perspectiva de um olhar que roda pela sala e vai em outra direção; vejo o nosso filho, tem seu jeito, mas parece com o meu pai, e você beija e aperta a bochecha de uma criança que já existe sem precisar nascer; você dormindo reflete um sonho para os meus olhos abertos, e então entendo que talvez não tenha sido eu quem tenha entrado no seu corpo por segundos, e tenha entendido um pouco mais sobre mim; você que entrou no meu corpo e, altruísta, externou meus próprios segredos sem roubá-los para ti. A ternura desta descoberta só me fez te amar mais, e menos tenho medo do futuro - mas ainda tenho muito; um sonho bom, filho, pai, me deixa uma réstia de felicidade que seus olhos piscando, o fim do sonho refletido, não destrói. Então você acorda sorrindo e te beijo, beijo, beijo, e você não precisa perguntar nada, jamais, pois o amor que meus olhos refletem é o seu, que conheces tão bem.
terça-feira, maio 29, 2007
FLIP 2007 - Programação comentada
Ontem foi divulgada a programação oficial da Flip. A seleção estrangeira é excelente. Obviamente a organização do evento se esforçou bastante para trazer tantos nomes interessantes para o Brasil. A seleção nacional, infelizmente, peca pelo pequeno número de escritores. Eu ainda sou um purista que via na Flip um idílio de defesa da literatura - o que a Bienal não pretende ser, por exemplo. No entanto, apenas 8 dos 20 convidados brasileiros são prosadores ou poetas. É pouco.
A justíssima homenagem ao sensacional Nelson Rodrigues me pareceu um pouco engessada na parte da dramaturgia. O cronista do dia a dia e esportivo poderiam ser mais explorados. Acho, inclusive, que Nelson foi mais importante nessas áreas do que no cinema, que ganhou uma mesa.
Mas, sem dúvida, a Flip promete, com Amós Oz, Coetzee, Antonio Torres, Mia Couto, Padilla, Ruy Castro e Arriaga, entre outros.
Seguem minhas observações pontuais, analisando cada dia, abaixo:
Quinta, dia 5/7
10h - FUTURO DO PRESENTE
Fabrício Corsaletti, Verônica Stigger e Cecilia Giannetti
11h45 - UIVOS
Chacal e Lobão
17h - SOBRE MACACOS E PATOS
Jim Dodge e Will Self
19h - TÃO LONGE, TÃO PERTO
William Boyd e Kiran Desai
A melhor mesa: as duas últimas mesas do dia farão muita gente pegar a estrada quinta pela manhã. Jim Dodge e Will Self pode ser a melhor palestra da Flip.
Ponto baixo: Lobão é um artista interessante, mas não agrega nada no pensar literário.
Vale apostar: dos oito escritores brasileiros, três falarão logo na primeira mesa. Essa é o espaço de novos na Flip, e é uma pena que saiu do sábado, dia nobre, para quinta-feira às 10h.
A estrela do dia: Kiran Desai - seu segundo livro (segundo!) ganhou o Booker Prize 2006.
Sexta, dia 6/7
10h - A VIDA COMO ELA FOI
Ruy Castro, Fernando Morais e Paulo Cesar de Araújo
11h45 - ÁLBUM DE FAMÍLIA
Ahdaf Soueif e Ana Maria Gonçalves
15h - TERRAS
Mia Couto e Antônio Torres
17h - CRIME E CASTIGO
Dennis Lehane e Guillermo Arriaga
19h - PANTERAS NO PORÃO
Amós Oz e Nadine Gordimer
A melhor mesa: Mia Couto e Antonio Torres devem ter um papo de gente grande, literariamente, em em bom português.
Ponto baixo: vou ser do contra, mas essa mesa de biografias é um pouco oportunista. Nada contra nenhum dos palestrantes, pelo contrário, mas preferia ver apenas o Ruy Castro falando da biografia do Nelson e de como foi organizar os livros do mesmo para a Companhia das Letras.
Vale apostar: A mesa com Lehane e Arriaga apresenta dois nomes interessantes, mas com temas que não convergem. Entre a literatura policial do americano e os roteiros crus do mexicano, preferia uma palestra isolada de cada um. Veremos como o mediador conduz o papo.
A estrela do dia: Apesar de Gordimer ser uma Nobel, é inegável que a estrela do dia deve ser Oz, muito mais conhecido no Brasil.
Sábado, 7/7
10h - NELSON RODRIGUES ATO 3
Arnaldo Jabor, Leyla Perrone-Moisés e Nuno Ramos
11h45 - DOIS LADOS DO BALCÃO
Silviano Santiago e César Aira
15h - PERDOA-ME POR ME TRAÍRES
Maria Rita Kehl e Alan Pauls
17h - NARRATIVAS DE CONFLITO
Robert Fisk e Lawrence Wright
19h - DIÁRIO DE UM ANO RUIM
J. M. Coetzee
22h - LEITURA DE "UM BEIJO NO ASFALTO"
Com escritores dirigidos por Bia Lessa
A melhor mesa: não é uma mesa, mas a aula de Coetzee.
Ponto baixo: a sexta agitada deve poupar muita gente de lembrar de esquecer de ver Jabor pela segunda vez na Flip.
Vale apostar: como a mesa das 15h também é propícia para dar espaço para aquele belo almoço em Parati, regado a cervejinha e cachaça, vale apostar na mesa anterior, de crítica, com Silviano e Aira. O papo deve dar boas pautas para o almoço da sequência.
A estrela do dia: Coetzee, novamente ele, que, mesmo falando de Beckett, poderia nos dar uma canja e responder perguntas sobre sua própria obra.
Domingo, dia 8/7
10h - SEM DRAMAS
Bosco Brasil e Mario Bortolotto
11h45 - NO CORAÇÃO DA SELVA
Luiz Felipe de Alencastro
15h - SOBRE MENINOS E LOBOS
Paulo Lins e Ishmael Beah
17h - DE MACONDO A MCCONDO
Ignacio Padilla e Rodrigo Fresán
19h - LITERATURA DE ESTIMAÇÃO
Escritores da Flip lêem trechos de seus livros prediletos
A melhor mesa: a última mesa da Flip é a única que se repete todos os anos. Eu nunca assisti, mas ouvir os autores falando de seus livros prediletos só pode ser interessante.
Ponto baixo: nada contra dramaturgos, mas a falta de escritores na manhã de domingo... Muita gente vai embora depois dessas mesas e é uma pena não poder deixar a Flip com o gostinho de quero mais, como aconteceu com a palestra de Adélia Prado em 2006 e Suassuna em 2005.
Vale apostar: Ignacio Padilla é um craque pouco conhecido no Brasil. Amphytrion foi um dos melhores livros que li ano passado. Possivelmente teremos outros livros do mexicano traduzidos para o português.
A estrela do dia: para o meu gosto, Padilla.
Últimos comentários: espero que na venda de ingressos não se repitam os erros dos anos anteriores. Pelo menos, o preço da Tenda da Matriz não está tão salgado (6 reais), o que é um grande avanço.
Ontem foi divulgada a programação oficial da Flip. A seleção estrangeira é excelente. Obviamente a organização do evento se esforçou bastante para trazer tantos nomes interessantes para o Brasil. A seleção nacional, infelizmente, peca pelo pequeno número de escritores. Eu ainda sou um purista que via na Flip um idílio de defesa da literatura - o que a Bienal não pretende ser, por exemplo. No entanto, apenas 8 dos 20 convidados brasileiros são prosadores ou poetas. É pouco.
A justíssima homenagem ao sensacional Nelson Rodrigues me pareceu um pouco engessada na parte da dramaturgia. O cronista do dia a dia e esportivo poderiam ser mais explorados. Acho, inclusive, que Nelson foi mais importante nessas áreas do que no cinema, que ganhou uma mesa.
Mas, sem dúvida, a Flip promete, com Amós Oz, Coetzee, Antonio Torres, Mia Couto, Padilla, Ruy Castro e Arriaga, entre outros.
Seguem minhas observações pontuais, analisando cada dia, abaixo:
Quinta, dia 5/7
10h - FUTURO DO PRESENTE
Fabrício Corsaletti, Verônica Stigger e Cecilia Giannetti
11h45 - UIVOS
Chacal e Lobão
17h - SOBRE MACACOS E PATOS
Jim Dodge e Will Self
19h - TÃO LONGE, TÃO PERTO
William Boyd e Kiran Desai
A melhor mesa: as duas últimas mesas do dia farão muita gente pegar a estrada quinta pela manhã. Jim Dodge e Will Self pode ser a melhor palestra da Flip.
Ponto baixo: Lobão é um artista interessante, mas não agrega nada no pensar literário.
Vale apostar: dos oito escritores brasileiros, três falarão logo na primeira mesa. Essa é o espaço de novos na Flip, e é uma pena que saiu do sábado, dia nobre, para quinta-feira às 10h.
A estrela do dia: Kiran Desai - seu segundo livro (segundo!) ganhou o Booker Prize 2006.
Sexta, dia 6/7
10h - A VIDA COMO ELA FOI
Ruy Castro, Fernando Morais e Paulo Cesar de Araújo
11h45 - ÁLBUM DE FAMÍLIA
Ahdaf Soueif e Ana Maria Gonçalves
15h - TERRAS
Mia Couto e Antônio Torres
17h - CRIME E CASTIGO
Dennis Lehane e Guillermo Arriaga
19h - PANTERAS NO PORÃO
Amós Oz e Nadine Gordimer
A melhor mesa: Mia Couto e Antonio Torres devem ter um papo de gente grande, literariamente, em em bom português.
Ponto baixo: vou ser do contra, mas essa mesa de biografias é um pouco oportunista. Nada contra nenhum dos palestrantes, pelo contrário, mas preferia ver apenas o Ruy Castro falando da biografia do Nelson e de como foi organizar os livros do mesmo para a Companhia das Letras.
Vale apostar: A mesa com Lehane e Arriaga apresenta dois nomes interessantes, mas com temas que não convergem. Entre a literatura policial do americano e os roteiros crus do mexicano, preferia uma palestra isolada de cada um. Veremos como o mediador conduz o papo.
A estrela do dia: Apesar de Gordimer ser uma Nobel, é inegável que a estrela do dia deve ser Oz, muito mais conhecido no Brasil.
Sábado, 7/7
10h - NELSON RODRIGUES ATO 3
Arnaldo Jabor, Leyla Perrone-Moisés e Nuno Ramos
11h45 - DOIS LADOS DO BALCÃO
Silviano Santiago e César Aira
15h - PERDOA-ME POR ME TRAÍRES
Maria Rita Kehl e Alan Pauls
17h - NARRATIVAS DE CONFLITO
Robert Fisk e Lawrence Wright
19h - DIÁRIO DE UM ANO RUIM
J. M. Coetzee
22h - LEITURA DE "UM BEIJO NO ASFALTO"
Com escritores dirigidos por Bia Lessa
A melhor mesa: não é uma mesa, mas a aula de Coetzee.
Ponto baixo: a sexta agitada deve poupar muita gente de lembrar de esquecer de ver Jabor pela segunda vez na Flip.
Vale apostar: como a mesa das 15h também é propícia para dar espaço para aquele belo almoço em Parati, regado a cervejinha e cachaça, vale apostar na mesa anterior, de crítica, com Silviano e Aira. O papo deve dar boas pautas para o almoço da sequência.
A estrela do dia: Coetzee, novamente ele, que, mesmo falando de Beckett, poderia nos dar uma canja e responder perguntas sobre sua própria obra.
Domingo, dia 8/7
10h - SEM DRAMAS
Bosco Brasil e Mario Bortolotto
11h45 - NO CORAÇÃO DA SELVA
Luiz Felipe de Alencastro
15h - SOBRE MENINOS E LOBOS
Paulo Lins e Ishmael Beah
17h - DE MACONDO A MCCONDO
Ignacio Padilla e Rodrigo Fresán
19h - LITERATURA DE ESTIMAÇÃO
Escritores da Flip lêem trechos de seus livros prediletos
A melhor mesa: a última mesa da Flip é a única que se repete todos os anos. Eu nunca assisti, mas ouvir os autores falando de seus livros prediletos só pode ser interessante.
Ponto baixo: nada contra dramaturgos, mas a falta de escritores na manhã de domingo... Muita gente vai embora depois dessas mesas e é uma pena não poder deixar a Flip com o gostinho de quero mais, como aconteceu com a palestra de Adélia Prado em 2006 e Suassuna em 2005.
Vale apostar: Ignacio Padilla é um craque pouco conhecido no Brasil. Amphytrion foi um dos melhores livros que li ano passado. Possivelmente teremos outros livros do mexicano traduzidos para o português.
A estrela do dia: para o meu gosto, Padilla.
Últimos comentários: espero que na venda de ingressos não se repitam os erros dos anos anteriores. Pelo menos, o preço da Tenda da Matriz não está tão salgado (6 reais), o que é um grande avanço.
quinta-feira, maio 24, 2007
Ficamos todos iguais com este vinho
O amigo Marcelo Moutinho dá uma interessante video-entrevista sobre seu trabalho, adaptações de literatura para cinema (e vice-versa) e suas impressões sobre o mercado editorial para o site Aguarrás. Detalhe para a garrafa de vinho, aberta, no cenário montado.
O amigo Marcelo Moutinho dá uma interessante video-entrevista sobre seu trabalho, adaptações de literatura para cinema (e vice-versa) e suas impressões sobre o mercado editorial para o site Aguarrás. Detalhe para a garrafa de vinho, aberta, no cenário montado.
Se assaltasse quatro academias e pequenas clínicas num raio de um quarteirão em apenas um mês, e saísse impune, tentaria uma quinta, décima nona vez?
Se você roubasse um caminhão de dinheirão e colocasse tudo na cueca, e ainda fosse pego, mas mesmo assim reeleito, roubaria de novo?
Se você invadisse uma hidrelétrica e apertasse os botões na sala de controle, faria o mesmo numa usina nuclear?
Está difícil ainda ter qualquer ilusão sobre este país.
Se você roubasse um caminhão de dinheirão e colocasse tudo na cueca, e ainda fosse pego, mas mesmo assim reeleito, roubaria de novo?
Se você invadisse uma hidrelétrica e apertasse os botões na sala de controle, faria o mesmo numa usina nuclear?
Está difícil ainda ter qualquer ilusão sobre este país.