sexta-feira, outubro 26, 2007
Tim Festival
Hoje começa o Tim Festival. Impossível morar no Rio e não saber. Mesmo de férias, apenas concentrado em descansar, escrever o novo livro e entregar o frila semanal, sem ninguém ao lado falando sobre o assunto. São 37 atrações, anuncia o Rio Show. Trinta e sete shows, muitos ao mesmo tempo, maratona.
Eu tenho uma relação engraçada com música. Eu gosto, bastante até, mas não acompanho, nem de longe, o mercado musical. Não sei nada das novidades, não escuto rádio fm há mais de dez anos, não vejo MTV há séculos. Bom, mas acho que ninguém faz mais nada dessas coisas, né? Mas também não baixo música. Compro um cd por ano em loja - em 2007, nenhum; pirata, então, nunca comprei.
Mas são 37 atrações e eu passei os olhos por todas elas e só reconheci a Bjork. Mas como acho a figura pública dela chatíssima, nunca me interessei por ouvir suas músicas. O mais gozado na matéria é que ela dava o nome do artista e colocava um tópico sobre com quem a música dele se parecia.
Imagino um escritor brasileiro lendo uma matéria assim. Fulano de tal: seu texto soa como o de fulano. “Mas como assim se odeio fulano” Outro: “Mas como assim se jamais li fulano”. De todo jeito essa coisa de comparar um ao outro cumpre bem seu papel, porque pelo visto o público médio do festival – bem acima de mim – também não conhece aquelas pessoas.
Só para não deixar passar, na matéria diz que Bjork parece com: Joanna Newson e Potishead.
Esclareceu muito, obrigado.
Eu sou tão fraco de conhecimento musical moderno que nesta semana pela primeira vez na vida escutei um cd do Chico Science. Da Bá, lógico. Mas tem dez anos que o cara morreu!, dirão os entendidos.
Pois é, para vocês verem.
É um bom cd. Funciona muito bem enquanto lavo a louça acumulada.
Hoje começa o Tim Festival. Impossível morar no Rio e não saber. Mesmo de férias, apenas concentrado em descansar, escrever o novo livro e entregar o frila semanal, sem ninguém ao lado falando sobre o assunto. São 37 atrações, anuncia o Rio Show. Trinta e sete shows, muitos ao mesmo tempo, maratona.
Eu tenho uma relação engraçada com música. Eu gosto, bastante até, mas não acompanho, nem de longe, o mercado musical. Não sei nada das novidades, não escuto rádio fm há mais de dez anos, não vejo MTV há séculos. Bom, mas acho que ninguém faz mais nada dessas coisas, né? Mas também não baixo música. Compro um cd por ano em loja - em 2007, nenhum; pirata, então, nunca comprei.
Mas são 37 atrações e eu passei os olhos por todas elas e só reconheci a Bjork. Mas como acho a figura pública dela chatíssima, nunca me interessei por ouvir suas músicas. O mais gozado na matéria é que ela dava o nome do artista e colocava um tópico sobre com quem a música dele se parecia.
Imagino um escritor brasileiro lendo uma matéria assim. Fulano de tal: seu texto soa como o de fulano. “Mas como assim se odeio fulano” Outro: “Mas como assim se jamais li fulano”. De todo jeito essa coisa de comparar um ao outro cumpre bem seu papel, porque pelo visto o público médio do festival – bem acima de mim – também não conhece aquelas pessoas.
Só para não deixar passar, na matéria diz que Bjork parece com: Joanna Newson e Potishead.
Esclareceu muito, obrigado.
Eu sou tão fraco de conhecimento musical moderno que nesta semana pela primeira vez na vida escutei um cd do Chico Science. Da Bá, lógico. Mas tem dez anos que o cara morreu!, dirão os entendidos.
Pois é, para vocês verem.
É um bom cd. Funciona muito bem enquanto lavo a louça acumulada.
terça-feira, outubro 23, 2007
Léxico do repórter esportivo
A moda era "blindado". "Fulano blindou o elenco". Passou. Depois que você vê até aquele repórter mais xinfrim, que nem sabe o que significa blindar, repetir a expressão, um ou outro mais influente deixa de repetir e daqui a pouco o verbo passa a ser proibido nos manuais de redação.
A onda agora é perguntar "o que representa..." para o boleiro. Tem um repórter do Sportv que só usa essa muleta. Termina o primeiro tempo, ele invade o campo, esbaforido, e tasca a pergunta: "Fulano, o que representa estar perdendo de 1 a 0." O rapaz responde, sério e óbvio como lhe convém, e daqui a 20 segundos lá está o repórter chamando o narrador novamente: "Estou aqui com o Fulano, autor do primeiro gol. Fulano, o que reperesenta esse gol?". E no fim do jogo, ao entrevistar o médico sobre a lesão do atleta: "Doutor Fulano, o que representa esse tipo de lesão para o atleta?" E para o dirigente do time derrotado, depois do técnico pedir demissão: "Doutor doutor Fulano, o que representa a saída do Sicrano para o clube?"
*
Romário é o novo técnico do Vasco. Precisa dizer alguma coisa?
*
Antecipo o repórter, na quarta-feira, furando a blindagem de coleguinhas: "Romário, o que representa ser técnico do Vasco para você?"
A moda era "blindado". "Fulano blindou o elenco". Passou. Depois que você vê até aquele repórter mais xinfrim, que nem sabe o que significa blindar, repetir a expressão, um ou outro mais influente deixa de repetir e daqui a pouco o verbo passa a ser proibido nos manuais de redação.
A onda agora é perguntar "o que representa..." para o boleiro. Tem um repórter do Sportv que só usa essa muleta. Termina o primeiro tempo, ele invade o campo, esbaforido, e tasca a pergunta: "Fulano, o que representa estar perdendo de 1 a 0." O rapaz responde, sério e óbvio como lhe convém, e daqui a 20 segundos lá está o repórter chamando o narrador novamente: "Estou aqui com o Fulano, autor do primeiro gol. Fulano, o que reperesenta esse gol?". E no fim do jogo, ao entrevistar o médico sobre a lesão do atleta: "Doutor Fulano, o que representa esse tipo de lesão para o atleta?" E para o dirigente do time derrotado, depois do técnico pedir demissão: "Doutor doutor Fulano, o que representa a saída do Sicrano para o clube?"
*
Romário é o novo técnico do Vasco. Precisa dizer alguma coisa?
*
Antecipo o repórter, na quarta-feira, furando a blindagem de coleguinhas: "Romário, o que representa ser técnico do Vasco para você?"
segunda-feira, outubro 22, 2007
O apelido que me custou um emprego
Eu trabalhava numa dessas grandes empresas em que se corre de lá para cá, andar ao outro. Para não esperar o elevador, escada. Era estagiário, segundo período na faculdade. Ou seja: estúpido, impetuoso e, para não repetir o primeiro adjetivo, digo que subia degraus de dois em dois. Até que um dia, neste dia específico que quero contar, tropecei.
Ao invés de gritar, xingar, calar, cuspi. Não foi um cuspe assim pequeno, babinha de boi cansado. Tampouco um cuspe metafísico, sartriano, digno de minhas leituras da época. Foi um cuspe mesmo, daquele com borbulhas brancas que pipocam para evaporar.
Não sei de onde ele saiu, mas estava lá. E, é preciso esclarecer, que não era só eu, estagiário nervosinho, quem usava aquela escadas. A vida social naquela empresa eram aquelas escadas. As pessoas iam de um andar ao outro por aquelas escadas; as pessoas fumavam, sim, as pessoas fumavam naquela escada; falavam mal uma das outras, alto, com eco naquela escada; as pessoas, dizem, nunca vi, nunca ouvi falar, mas dizem que até hoje as pessoas trepam naquela escada depois do expediente.
Mas lá estou eu, estagiário-impetuoso-leitor-sartriano, ancorado naquele degrau, paralisado pelo cuspe. Penso: o que fazer? Penso: vou passar o tênis no cuspe e borrocar o degrau inteiro. Penso: vou embora e deixo o cuspe aí. Penso: ninguém vai descobrir mesmo. Penso: que barulho é esse. Penso: tá vindo alguém. Penso: é preciso fazer algo. Penso: o que fazer?
Cuspi de novo. Todo esse penso, penso, penso, penso no chão.
Era o outro estagiário quem chegava, mais velho na empresa, com o mesmo nome que eu. Muito mais imbecil, e repetindo o adjetivo, imbecil que eu.
Passei a ser conhecido na empresa como estagiário-cuspe; pedi demissão no fim do mês.
Eu trabalhava numa dessas grandes empresas em que se corre de lá para cá, andar ao outro. Para não esperar o elevador, escada. Era estagiário, segundo período na faculdade. Ou seja: estúpido, impetuoso e, para não repetir o primeiro adjetivo, digo que subia degraus de dois em dois. Até que um dia, neste dia específico que quero contar, tropecei.
Ao invés de gritar, xingar, calar, cuspi. Não foi um cuspe assim pequeno, babinha de boi cansado. Tampouco um cuspe metafísico, sartriano, digno de minhas leituras da época. Foi um cuspe mesmo, daquele com borbulhas brancas que pipocam para evaporar.
Não sei de onde ele saiu, mas estava lá. E, é preciso esclarecer, que não era só eu, estagiário nervosinho, quem usava aquela escadas. A vida social naquela empresa eram aquelas escadas. As pessoas iam de um andar ao outro por aquelas escadas; as pessoas fumavam, sim, as pessoas fumavam naquela escada; falavam mal uma das outras, alto, com eco naquela escada; as pessoas, dizem, nunca vi, nunca ouvi falar, mas dizem que até hoje as pessoas trepam naquela escada depois do expediente.
Mas lá estou eu, estagiário-impetuoso-leitor-sartriano, ancorado naquele degrau, paralisado pelo cuspe. Penso: o que fazer? Penso: vou passar o tênis no cuspe e borrocar o degrau inteiro. Penso: vou embora e deixo o cuspe aí. Penso: ninguém vai descobrir mesmo. Penso: que barulho é esse. Penso: tá vindo alguém. Penso: é preciso fazer algo. Penso: o que fazer?
Cuspi de novo. Todo esse penso, penso, penso, penso no chão.
Era o outro estagiário quem chegava, mais velho na empresa, com o mesmo nome que eu. Muito mais imbecil, e repetindo o adjetivo, imbecil que eu.
Passei a ser conhecido na empresa como estagiário-cuspe; pedi demissão no fim do mês.
quinta-feira, outubro 11, 2007
hoje & hoje
O amigo João Paulo Cuenca lança hoje, às 19h, na Travessa (Visconde de Pirajá 572, Ipanema), seu aguardado segundo romance: O Dia Mastroianni.
Segundo descrição do convite: "Dia Mastroianni é qualquer dia, em qualquer tempo ou cidade do mundo, em que dois amigos decidem cumprir o hilário ritual de passar 24 horas vivendo como farsa o que o mítico ator italiano imortalizou como sua persona mais típica: um dândi que flana entre mulheres e prazeres, irônico e um tanto melancólico com o tempo que escorre com pouco sentido, muito som e nenhuma fúria."
Na coluna Gente Boa, do Globo, de hoje, o autor encarna - suponho - seus personagens, sentado numa mesa do Vilarino, couvertzinho e cerveja, trajando um terno preto risca-de-giz. Será que Cuenca vai trocar suas camisas sociais e correntes na calça pelo figurino dândi no lançamento?
*
Mudando de assunto, Doris Lessing ganhou o Nobel de Literatura 2007. Nascida na Pérsia, filha de oficiais britânicos, Lessing, de 88 anos, nas palavras da Academia Sueca, narra a "experiência épica feminina".
Minhas patreleiras não iam me decepcionar. Estava lá um exemplar cansado de Um casamento sem amor, edição da Record de 1983. Foi minha leitura da hora que demoro para chegar aqui no trabalho - último dia antes das férias! -; as páginas que li deste livro não me empolgaram...
*
Enquanto isso, na segunda prateleira do quarto rosa - não perguntem! - lá de casa, Roth e Kundera resmungam contra a "acadimia" - a expressão é deles.
O amigo João Paulo Cuenca lança hoje, às 19h, na Travessa (Visconde de Pirajá 572, Ipanema), seu aguardado segundo romance: O Dia Mastroianni.
Segundo descrição do convite: "Dia Mastroianni é qualquer dia, em qualquer tempo ou cidade do mundo, em que dois amigos decidem cumprir o hilário ritual de passar 24 horas vivendo como farsa o que o mítico ator italiano imortalizou como sua persona mais típica: um dândi que flana entre mulheres e prazeres, irônico e um tanto melancólico com o tempo que escorre com pouco sentido, muito som e nenhuma fúria."
Na coluna Gente Boa, do Globo, de hoje, o autor encarna - suponho - seus personagens, sentado numa mesa do Vilarino, couvertzinho e cerveja, trajando um terno preto risca-de-giz. Será que Cuenca vai trocar suas camisas sociais e correntes na calça pelo figurino dândi no lançamento?
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Mudando de assunto, Doris Lessing ganhou o Nobel de Literatura 2007. Nascida na Pérsia, filha de oficiais britânicos, Lessing, de 88 anos, nas palavras da Academia Sueca, narra a "experiência épica feminina".
Minhas patreleiras não iam me decepcionar. Estava lá um exemplar cansado de Um casamento sem amor, edição da Record de 1983. Foi minha leitura da hora que demoro para chegar aqui no trabalho - último dia antes das férias! -; as páginas que li deste livro não me empolgaram...
*
Enquanto isso, na segunda prateleira do quarto rosa - não perguntem! - lá de casa, Roth e Kundera resmungam contra a "acadimia" - a expressão é deles.
terça-feira, outubro 02, 2007
Ciclos
Eu ando tão assoberbado com a preocupação de me sustentar que mal resta tempo para qualquer coisa que não família entre o trabalho (8h-20h) e o frila. Acabei perdendo a exposição Blooks. Perdi a chance de ver meu texto em outro formato.
Não tenho lido nada fora o quase livro-por-dia daqui do trabalho. Comprei as Benevolentes, deixando boa parte do meu salário para os espanhóis, e por enquanto ele é apenas um peso numa estante já com bico-de-papagaio.
Mas daqui a pouco, férias.
Alguns dias e vou poder soltar as personagens já rascunhadas no computador e na minha cabeça: livro número 2. Pessoas inseguras, carentes. Minhas personagens. Darei atenção, aguentem mais uns dias na companhia dos textos in english dos frilas. Hold on um minuto de duas semanas pensando na melhor solução para escalar o meio campo do Flamengo sem nenhum Rômulo-Jaílton.
Mas eu queria falar de fim de ciclos. Eu acredito em ciclos. Outro dia escrevi a orelha do novo livro de um autor de que usei uma frase como epígrafe do meu romance. O mundo gira e a lusitana roda. Na Europa o cara escreve o livro. Na Flip eu compro o romance dele, me encanto e roubo uma frase para a epígrafe do meu livro. Como retribuição, três anos depois, escrevo a orelha do livro dele. Não, nada disso. Tudo em segredo. A orelha não é assinada, a orelha que eu escrevi não é exatamente a que estará na edição brasileira do livro. A que sairá eu escrevi, mas não é a minha. Retribuí. Fim de um ciclo.
Acho que agora-daqui-a-pouco já posso um livro número 2.
Novo ciclo.
Eu ando tão assoberbado com a preocupação de me sustentar que mal resta tempo para qualquer coisa que não família entre o trabalho (8h-20h) e o frila. Acabei perdendo a exposição Blooks. Perdi a chance de ver meu texto em outro formato.
Não tenho lido nada fora o quase livro-por-dia daqui do trabalho. Comprei as Benevolentes, deixando boa parte do meu salário para os espanhóis, e por enquanto ele é apenas um peso numa estante já com bico-de-papagaio.
Mas daqui a pouco, férias.
Alguns dias e vou poder soltar as personagens já rascunhadas no computador e na minha cabeça: livro número 2. Pessoas inseguras, carentes. Minhas personagens. Darei atenção, aguentem mais uns dias na companhia dos textos in english dos frilas. Hold on um minuto de duas semanas pensando na melhor solução para escalar o meio campo do Flamengo sem nenhum Rômulo-Jaílton.
Mas eu queria falar de fim de ciclos. Eu acredito em ciclos. Outro dia escrevi a orelha do novo livro de um autor de que usei uma frase como epígrafe do meu romance. O mundo gira e a lusitana roda. Na Europa o cara escreve o livro. Na Flip eu compro o romance dele, me encanto e roubo uma frase para a epígrafe do meu livro. Como retribuição, três anos depois, escrevo a orelha do livro dele. Não, nada disso. Tudo em segredo. A orelha não é assinada, a orelha que eu escrevi não é exatamente a que estará na edição brasileira do livro. A que sairá eu escrevi, mas não é a minha. Retribuí. Fim de um ciclo.
Acho que agora-daqui-a-pouco já posso um livro número 2.
Novo ciclo.