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sexta-feira, outubro 29, 2004

Espetacularização da morte

A pessoa pára, tenta ensejar uma queda organizada, mas acaba desabando no chão como se uma tomada fosse puxada em alguma Matrix por aí. Morre na hora e nunca mais fecha os olhos.

Essa descrição se repetiu três vezes em pouco mais de um ano, duas delas com transmissão de TV ao vivo para o Brasil. Para mim, chocou muito mais a morte de Foe, pois foi a primeira da série e a que eu estava assistindo ao vivo.

Na quarta eu estava trabalhando no jogo do Flamengo. Só assisti as imagens depois de saber que o jogador tinha morrido. Boa parte da imprensa que espetacularizou a morte do jogador também. Só assim posso entender a fixação em culpar a falta do agora tão conhecido desfibrilador. Editadas, as imagens podem dar idéia de demora no atendimento, mas em tempo real foram apenas três minutos e quatro segundos desde o momento em que o jogador desabou até receber a primeira descarga elétrica.

Para efeito de comparação, no caso de Foe ele foi removido pela maca para fora de campo, ficou ali alguns minutos e depois foi levado para o vestiário. Oficialmente só morreu no hospital, mas a realidade é que faleceu no campo. No caso do jogador húngaro do Benfica, o estádio de Guimarães, onde a partida estava sendo realizada, sequer tinha os equipamentos médicos necessários.

Portanto, a culpa não foi do atendimento. Pense quanto tempo demoraria para o atendimento chegar se alguém ao seu lado passasse pela mesma coisa agora (com perdão do mau agouro).

Outra coisa que precisa ser entendida é que esses casos de morte súbita são completamente diferentes de infartos. A pessoa não passa mal, sente dor no braço direito, acha que está tendo um problema sério de coração, chama a ambulância, tira eletro, vai para o hospital e chega lá ainda consciente. A coisa é rápida. É sentir mal, cair e morrer.

E por que? Porque, e agora chego no ponto central da questão, já tem um problema sério no coração e não pode ser submetido ao rigor atlético do esporte profissional. E se o São Caetano sabia que este era o caso do zagueiro, é daí que a imprensa deve partir para falar qualquer coisa.

O passo adiante e mais importante daqui para frente seria entender o motivo desta série de mortes. Será que os jogadores estão mal preparados fisicamente (muitos jogos e viagens e poucos treinos)? O Flamengo, por exemplo, não treina mais que duas horas por dia! E se você descontar as concentrações, viagens e jogos, verá que mal treinam. Será que algum complemento alimentar que está sendo receitado tem contra-indicação? Ou apenas fatalidade mesmo?

É a partir destes pontos que a imprensa tem que reagir.

quinta-feira, outubro 28, 2004

Só se fala nisso no Rio

Da coluna do Tutty Vasques (enviada pelo Jaime), a mídia espontânea mais estranha que o livro recebeu:

"Esclarecimento

O livro 'Prosas Cariocas' não é biografia de Romário. E não se fala mais nisso, caramba!"

quarta-feira, outubro 27, 2004

Bolsa Vivo/Flip

Parabéns aos vencedores!

Retirado do PublishNews - 27/10/2004

"Chegou ao final o processo que escolheu os dois ganhadores das bolsas FLIP de criação literária promovidas pela Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) com patrocínio da Vivo. Os vencedores foram o carioca Antonio Dutra e a mineira Christiane Tassis, escolhidos por um júri composto por Sérgio Sant'Anna, Maria Esther Maciel e Manuel da Costa Pinto. 'Veredas da Literatura' é o nome do projeto que reuniu pela primeira vez uma trupe de aproximadamente 60 autores inéditos, vindos de diversas partes do país, durante três dias da FLIP (dias 8, 9 e 10 de julho) para uma oficina literária que este ano contou com a participação do escritor Milton Hatoum. Além de promover o encontro desses novos autores com escritores consagrados, a iniciativa tem por objetivo principal revelar novos talentos literários e contribuir para a publicação de seus livros. Para tanto, os dois vencedores ganham uma bolsa de R$ 12 mil, pagas em oito meses, tempo que terão para finalizar seus projetos e, se possível, publicar em prazo factível para um possível lançamento na próxima FLIP, quando participarão ativamente da Festa como convidados. Para garantir a total independência do resultado, o júri em momento algum teve acesso aos nomes dos candidatos. As editoras interessadas na publicação dos dois autores devem procurá-los diretamente ou, se preferirem, entrar em contato com a diretoria da FLIP ou com a Comissão Organizadora da oficina Veredas da Literatura. Os organizadores ressaltam que os autores terão total liberdade para escolher as editoras de sua preferência."

JM foi passear no bosque

Gostou, senhora?

terça-feira, outubro 26, 2004

A recriação

Este foi o texto lido maravilhosamente pela Bá no evento de dramaturgia ontem. É uma adaptação da peça "Amélia", de Camilo Pelegrini. A sinopse da peça é a seguinte:
Amélia, mulher de 35 anos, obcecada em ter uma filha, desconta suas frustrações e arrependimentos no marido homossexual, matando-o a marteladas.

Para quem tiver a paciência de ler o conto, verá que mudei bastante a história (a peça está neste link):

Amélia

Amanhã alguém vai entrar aqui no quarto para me levar para a maternidade. Pode ser Arnaldo. Ah, minha Sofia, filha tão desejada. Vai parecer comigo. Vai parecer comigo.


Conheci Arnaldo ainda no tempo da escola. Eu era bonita, rosto delicado, olhos verdes. Os meninos me tiravam para dançar nas festinhas e daí tentavam me apalpar. Sempre dava um jeito de me desvencilhar e fugir para um cantinho das salas, onde ficava observando as luzes das pistas de dança. O Arnaldo não era como os outros garotos. Era educado, falava baixinho, sempre cheiroso. Foi numa festa, depois de uma escapadela, que nos falamos pela primeira vez. Ele, sempre encostado no muro, e eu, encantada pelas luzes. Esbarrei nele e pedi desculpa. Ele sorriu, sem jeito, e foi o suficiente para me apaixonar. Duas semanas depois estávamos namorando.


Daqui a pouco alguém vai entrar aqui no quarto para me levar para a maternidade. Pode ser Dolores, minha sogra. Arnaldo quer que Sofia se chame Dolores. Mas esse não é nome para criança. Dolores, Dolores. Um bebezinho de olhos verdes chamado Dolores.


Quando fui jantar pela primeira vez no apartamento dele estávamos no início do namoro. Era uma casa de classe média típica: o marido calado e a mulher falante. Dona Dolores dominou a conversa, mesmo sem eu lembrar nada do que ela falou. Eu apenas tagarelei, tagarelei e assenti bastante com a cabeça. Arnaldo não falou. O pai dele não falou. Dona Dolores me levou até a porta e sussurrou no meu ouvido: ?São iguais. Não tem jeito?.


Há três dias alguém entrou aqui no quarto para me levar para a maternidade. Era Ângela, minha amiguinha da época do colégio. Eu nunca gostei muito dela. Disse que era impossível Arnaldo me engravidar.


Para a formatura do colégio minha madrasta fez um lindo vestido longo lilás. Arnaldo veio me apanhar de terno azul marinho e flor branca na lapela. Foi como um sonho entrar no salão de baile de mãos dadas com ele. Minhas amigas riram, acharam cafona. Vestidos longos não estavam na moda para mulheres e, para os meninos, camisa social já era apertado demais. Mas Arnaldo era diferente, e dançamos, dançamos, dançamos. Perto da hora de ir embora, estranhamente, ele sumiu. Procurei por toda parte, perguntei para um, para outro, e nada. Ângela, uma menina que andava no mesmo grupo do que eu, me puxou pelo braço e disse: ?Amélia, você não percebe?? ?Arnaldo é diferente, Amélia? Ela riu e fez com o punho sinal de que ele era viado. ?Venha que te mostro onde e com quem ele está?. E riu novamente. Dei um soco nela e sai correndo para o outro lado.

Há nove meses alguém entrou no quarto para me levar para a maternidade. Era um negrinho forte. Bigode ralo, quase um buço Ele procurava por Arnaldo. Disse que meu marido estava devendo dinheiro para ele.

Arnaldo às vezes dormia fora de casa. Dizia que era por causa do trabalho, viagens de negócio para São Paulo. Eu sempre desconfiei que estava com outro. Mas nunca tive coragem de dizer. Um dia apareceu um negrinho forte de doze, treze anos na minha porta procurando por Arnaldo. Era pobre, olhos amarelados, dentes brancos. Parecia ter fome. Convidei-o para entrar e comer um lanche. Arnaldo chegou nessa hora, esbaforido e me mandou deixá-lo a sós com o negrinho. Cochichou alguma coisa no ouvido dele e colocou uma nota de cinqüenta reais no bolso de trás da bermuda do moleque. Deu um tapa na bunda dele fechou a porta.
Naquela noite transamos. Foi rápido e ele não abriu os olhos por um segundo sequer.

Há sete meses alguém entrou no quarto para me levar para a maternidade. Eram dois enfermeiros gentis. Arnaldo não pôde vir, devia estar no trabalho.


Eu tinha certeza de que finalmente estava grávida, depois de tantos anos de casamento. Sofia nasceria sadia, teria olhos verdes e sardas no nariz. Arnaldo ficou tão feliz que me levou para o hospital na hora. Fizemos um exame e esperamos o resultado por uma longa semana. Quando tive a confirmação do que já pressentira, Arnaldo, sempre tão cuidadoso, me internou na maternidade para eu ter todo o conforto durante a gravidez. Com 35 anos é preciso ter muito cuidado. Ele me deixou aqui e disse que me visitaria. Ainda não voltou.



Amélia sempre me encantou pela beleza e ingenuidade infantil. Inútil tentar mentir ou procurar outra razão para justificar tantos anos de casamento com uma pessoa que nunca foi uma mulher que me atraiu fisicamente. Ela esbarrou em mim numa festa de tanto olhar para as luzes. Parecia em transe. No início achava isso charmoso. Ela simplesmente parava o olhar em um local e ficava minutos em transe. Que coisa misteriosa, excitante, pensava. Depois que nos casamos a única preocupação dela era engravidar. Só falava e pensava nisso. Sofia, Sofia. Convivi com o fantasma de Sofia por anos. Seria bailarina, estudaria francês antes de inglês, teria olhos verdes. Verdes, embora os meus e os de Amélia sejam de um negrume absoluto.
Com cinco anos de casamento fizemos, enfim, o teste de gravidez. Ela não poderia ter filhos. Amélia teve a primeira crise de depressão. Não saia de casa, não comia, quase não falava. Vamos adotar, sugeri, por pura pena mesmo, pois não achava que Amélia poderia criar filhos. Não, ela respondeu. Sou como uma alface podre por dentro. Toda negra. E nunca mais conversamos sobre essa possibilidade.
Nessa época eu já a traia com outras, embora sempre soube da fixação dela por achar que eram outros. Amélia, por algum motivo, sempre preferiu pensar assim. Algum mecanismo de defesa, sei lá. Mas para cada Fernanda que me ligava inadvertidamente, ela anotava recado de um Fernando. Joana virava João. Na cama, fugia sempre de mim. Só transávamos quando tinha um rompante de possibilidade de gravidez. Aí vinha afoita, depois se encolhia, virava de lado e ficava apenas sussurrando...Sofia, Sofia.
Há nove meses ela me recebeu na porta do apartamento com sorriso nos olhos. Estou grávida, disse. Vamos, estou grávida, me leva para a maternidade para fazer o teste. Tenho certeza. Vamos.
Não tive coragem de contradize-la. Ela nunca estivera tão feliz. Na maternidade falava para cada enfermeira que passava. Estou grávida, grávida.
Fiz questão de procurar um médico desconhecido para proteger Amélia. Ela precisava fazer aquele teste para sossegar e ver o não impresso no papel.
Os resultados saíram uma semana depois. Amélia já comprara um berço e o enxoval quase completo. O não no papel não mudou nada. Estava grávida, tinha certeza. Em nove meses eu iria ser pai de Sofia.
A situação era crítica. O médico disse que era preciso interná-la no hospício porque ela já não poderia viver sem acompanhamento médico 24 horas por dia. Nessa altura eu só sentia compaixão por ela, então foi mais fácil assimilar que minha esposa era realmente louca.
Hoje a gravidez psicológica dela completa nove meses. Ela pediu para me chamarem para ver o nascimento de Sofia. Pelo que conheço, Amélia ficará muda, olhando para a parede por horas no momento que perceber que não está grávida. Ela é incapaz de machucar uma mosca. Sempre foi muito pacífica. Mas deve sofrer bastante quando entender tudo. Se é que um dia compreenderá...


Há vinte anos alguém entrou aqui no quarto para me levar para a maternidade. Era Arnaldo. Espero ele voltar. Mas e se ele não saiu? Será que espero por ele em vão. Arnaldo? Arnaldo?

Arnaldo entrou no apartamento acompanhado pelo doutor, que depois nos deixou a sós. Eu perguntei como estava Sofia. Ele me disse que não existia Sofia, que eu não estava grávida. Eu apontei para minha barriga. Mostrei a cicatriz da cesária. Levaram minha filha há três dias. Cadê ela, Arnaldo, cadê? Ele, encabulado, com as costas na parede, assim como o conheci, disse que Sofia era fruto da minha imaginação e abaixou a cabeça.
Foi tudo muito rápido. Peguei o jarro de vidro e quebrei na testa dele. Arnaldo caiu, tonto. O sangue correu apenas do lado direito da camisa branca dele, que estava toda engomada. Ele só poderia estar vivendo com outro, porque Arnaldo nunca soube engomar camisas. Eu o xinguei de viado e chutei forte a cabeça dele duas, três, quatro vezes.

Há 35 anos alguém entrou aqui no quarto para me levar para da maternidade. Era minha tia Augusta. Sofia, minha mãe, morreu no parto.

Sobre a leitura

A leitura de ontem foi bem legal e mostrou que o evento está tomando corpo. Tinha mais gente que a semana passada e, possivelmente, na segunda que vem teremos ainda mais público.

Foi bastante estranho ver meu conto adaptado por outra pessoa. É uma sensação de impotência e, ao mesmo tempo, de estranheza. Eu reconheci meu texto ali, mas acho que ele se tornou outra obra criada pelo Daniel Tendler.

A minha parte de recriação foi muito mais trabalhosa e, depois de pronta, prazerosa. Também mudei bastante a peça do Camilo Pelegrini (que deu um show na adaptação cômica do conto da Antonia Pelegrino) e parece que ele gostou bastante.

Semana que vem tem mais...

segunda-feira, outubro 25, 2004

Prosas e Dramaturgia II



Daqui a pouco, às 21h, tem a segunda edição do encontro entre a "Nova Dramaturgia" e a "Nova Prosa" carioca, no Teatro Café Pequeno, no Leblon. O esquema é simples: dois prosadores recriam peças para contos - e lêem para o público -, enquanto dois dramaturgos fazem o caminho inverso.

Eu acabei de escrever neste momento, 16h, o conto baseado na peça Amélia, de Camilo Pellegrini. Semana passada, no debate que sucedeu as leituras, ficou claro a diferença entre adaptar e recriar. No meu caso eu procurei recriar. Mudei a história mesmo. Espero que o autor curta. E estou curioso para ver meu conto - Adequado - encenado. Será que verei uma adaptação ou uma recriação?

Quem ficou interessado, o evento é gratuito e também contará com a escritora Antonia Pellegrino e o dramaturgo Daniel Tendler.

See you later, aligator.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Barcelona x Milan

Hoje tem Kaká x Ronaldinho Gaúcho na Champions League. A revista Mistica publicou uma reportagem interessante sobre outras encarnações na última edição. Várias personalidades na matéria.

Na última encarnação, Kaká, o jogador vertical, objetivo, foi projetista da Nasa segundo a revista. Estava na mesa de operações como engenheiro-chefe na missão de Apollo IV.

O Gaúcho foi artista de rua na Europa. Possivelmente uma cigana que cruzava todo o continente lendo mãos de estranhos.

terça-feira, outubro 19, 2004

Novos no palco

O clima no encontro entre a "nova dramaturgia" e a "nova prosa" carioca não poderia ser melhor ontem à noite. Marcelo Moutinho, João Paulo Cuenca, Daniela Pereira de Carvalho e Roberto Alvim apresentaram uma releitura para o seu meio do trabalho dos textos dos parceiros de noite. Os "prosadores" adaptaram peças para contos, enquanto os dramaturgos fizeram o caminho inverso.

O resultado foi bastante interessante, já que, sem nenhuma regra ou combinação anterior, cada um focou sua "adaptação" num aspecto. Houve os que preferiram não mudar muito o texto do outro e os que alteraram completamente. Tudo válido.

Sem regras, os espectadores que assitiram as apresentações ontem no Café Pequeno puderam ver um pouquinho do trabalho de cada um dos quatro sem saber bem qual o limite entre o texto original e a recriação. Este aspecto é essencial para pensar na união entre as artes. Se para o autor ver outra pessoa mexendo no seu texto é uma coisa de certa forma angustiante, para o espectador, esta recriação, sem dúvida, funciona para adaptar o texto para o meio em que ele explorará.

Depois ainda rolou um debate descontráido, no espírito da noite, entre os envolvidos, enfocando as diferenças de linguagens, sua particularidades e, incentivados por uma pergunta da crítica literária e teatral Beatriz Resende, sobre a dificuldade de cada um trabalhar nesta recriação (sabendo que encarará o crivo do autor original ao vivo).

Semana que vem, às 21h, gratuitamente, o evento terá nova edição. Eu estarei ao lado de Antonia Pellegrino representando a nova prosa. Os dois dramaturgos eu ainda não sei quem serão, pois ainda não recebi a peça para adaptar em conto. Compareçam. O Teatro Café Pequeno fica na Ataufo de Paiva, no Leblon.

segunda-feira, outubro 18, 2004

Ainda hoje


domingo, outubro 17, 2004

Domingo à tarde

- Vou trabalhar que ganho menos.

quinta-feira, outubro 14, 2004

Axioma de Fernando Diniz

Quando um time contrata um jogador e diz que é para compor elenco, é batata que em dois meses ele estará jogando como titular.

Convocaram o Magrão...agora aguentem.

1 real

Saldão na Feira do Livro no Largo do Machado. Comprei quatro livros por um real cada. Começei por Bar Don Juan, do Callado, que estava curioso para ler há muito tempo.

quarta-feira, outubro 13, 2004

O silêncio quando te olho dormindo me soa obsceno. E com as pálpebras abaixadas você me é menos indecifrável do que com esses negros esquivos abertos. Assim, com a orelha sem brincos de argola, você é menos mulher. Dormindo, não me cobra explicações sobre o mundo, nós dois, eu, que não tenho.

+

Tenho pena de mim mesmo. Hoje chorei num sofá qualquer.

Ainda Sabino

A Paralelos foi rápida no gatilho e fez um especial relâmpago sobre Fernando Sabino. São pequenos textos, homenagens, historietas de influências e, principalmente, reverência para quem merece. Vale a visita.

Ainda mais bonito é ler as palavras da neta dele (Cláudia Sabino Macedo-Soares) na comunidade do Orkut em homenagem ao escritor. Colo aqui o que ela escreveu porque sei que muita gente não entra no trava-trava:

"Palavras da Família 10/12/2004 3:11 PM
Rafael, desculpe romper sua linda homenagem de dois dias de silêncio.

Quero que todos saibam que vovô leu vários tópicos e depoimentos desta comunidade e ficou muito feliz. Palavras dele: 'Que beleza ver que existem tantas pessoas inteligentes e participativas interessadas em literatura sem se julgar 'gênios não reconhecidos'.

Infelizmente o agravamento da doença não permitiu que ele enviasse a vocês o recado que pretendia. Mas nós da família queremos que vocês saibam que deram a ele uma grande alegria."

segunda-feira, outubro 11, 2004

Quatro amigos reunidos

Morreu Fernando Sabino.

sexta-feira, outubro 08, 2004

Jogador do Internacional esfaqueia stripper

Olha que história bem contada: o cara contrata um stripper (HOMEM) para a sua festa de aniversário de casamento. Toma umas e outras e vai dormir. Acorda com os gritos da mulher e, assustado, vê o stripper se 'aproveitando' da esposa dele. Como cabra macho que é, vai lá e esfaqueia a mão(?) do stripper.

Sou só eu ou é óbvio que o sujeito plantou o chifre na própria casa, pegou a mulher no flagra e ainda vai ser preso. Ah, a inteligência dos atletas do nosso esporte bretão...

Notícia veiculada no Terra:

"O atacante Didi do Internacional de Porto Alegre esfaqueou o stripper Felisberto Valdemar Aquino na madrugada de hoje, após uma festa na residência do atleta. A queixa foi prestada pelo stripper na 10º DP. O jogador alega que Felisberto estaria violentando sua mulher e por isso o atacou. No entanto, o stripper disse que a briga ocorreu por causa do pagamento. Didi e sua mulher o contrataram para comemorar seu aniversário de casamento.

O jogador disse que, pela madrugada, dormiu e acabou acordado pelo grito de sua mulher, que estaria sendo violentada pelo rapaz. Após um desentendimento, Didi feriu Felisberto, de 29 anos, na mão esquerda."

Antes tarde

Saiu ontem no caderno Zona Sul do Globo, uma ótima matéria da Suzana Velasco sobre os contos do Prosas Cariocas que se desenrolam nesta região. Confiram:

"As 'cidades' da Zona Sul


'Cada bairro tem uma personalidade própria: o Rio é uma cidade com muitas cidades dentro.' A frase de Marques Rebêlo, epígrafe de 'Prosas cariocas', traduz bem o espírito do livro de contos: diferentes bairros da cidade, retratados pelo olhar de jovens escritores. Dos 17 textos, oito são situados na Zona Sul: Copacabana, Catete, Urca, Leblon, Laranjeiras, Gávea, Santa Teresa e Cosme Velho.

- As singularidades dos bairros aparecem nos contos, apesar de nem sempre os locais serem os personagens principais. A única condição era que o texto tivesse pelo menos uma cena na área escolhida. E, apesar de cada um ter seu estilo, há uma organicidade no livro, talvez por sermos de uma mesma geração - diz Marcelo Moutinho, que escreveu sobre a Urca.

As diferenças aparecem não apenas entre Pavuna e Copacabana, mas entre Copacabana e Gávea, Gávea e Leblon, Leblon e Cosme Velho.

- O Leblon é mais metido, quem mora lá não quer sair. A Gávea é mais misturada. E no Jardim Botânico ouço as pessoas tocando piano de tarde. Gosto dos prédios antigos de lá - conta Antonia Pellegrino, que escreveu sobre a Gávea.

Moutinho organizou o livro com Flávio Izhaki, cujo conto sobre o Catete inspirou a idéia de escrever sobre bairros do Rio. Bairros, sem o artigo definido, porque, em momento algum, foram estipulados que locais deveriam fazer parte de 'Prosas cariocas', lançado no mês passado.

- Fizemos uma seleção de pessoas, não de contos. Achávamos que a Tijuca, por exemplo, era importante, mas não impusemos nada a ninguém e o bairro não está no livro - conta Izhaki.

A matéria segue neste link.

Nobel de Literatura nunca foi editada no Brasil

Enquanto isso..."Lambendo os fundilhos do jardineiro da casa do cara que escreveu o Código da Vinci" foi comprado na Feira de Frankfurt por 3 milhões de reais.

Retirado do Globo:

"Nobel para a voz dissonante

ESTOCOLMO e VIENA

Controversa, corajosa, liberal e nunca unânime, nem mesmo ontem, quando foi anunciada a 10a mulher premiada com o Nobel de Literatura, a austríaca Elfriede Jelinek, de 57 anos, já acusou seu país de criminoso devido ao envolvimento com o nazismo e, no Brasil, embora sua obra não esteja disponível, ela é conhecida através do filme 'A professora de piano', que se baseia num de seus romances e foi estrelado por Isabelle Huppert, em 2001. A música, aliás, que começou a estudar quando criança, está no cerne de sua literatura e a Academia Sueca disse ter escolhido Jelinek devido 'ao fluxo musical de vozes e contravozes de seus romances e peças teatrais que revelam com uma extraordinária paixão lingüística o absurdo e o poder autoritário dos clichês sociais'.

- É claro que me alegro, não tenho por que negar isso. Mas na realidade estou sentindo mais desespero que alegria. Não me sinto preparada para fazer frente à opinião pública. Sinto-me ameaçada - disse Elfriede Jelinek ontem, poucas horas após saber que tinha se tornado o primeiro autor de seu país a receber o Nobel de Literatura e que, no dia 10 de dezembro, ganhará o cheque de 10 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1,36 milhão).

A escritora, no entanto, avisou que está 'muito doente' para ir à solenidade de premiação em Estocolmo.

- Neste momento não posso lidar com gente - afirmou ela.

Na Alemanha, sua obra é muito conhecida e suas peças de teatro estão entre as mais encenadas no país. Na Áustria, porém, muitos críticos acusam-na de denegrir a imagem do país, sobretudo os mais conservadores, apoiados pelo líder da extrema-direita, Joerg Haider, que em 1996 chegou a exigir o fim dos subsídios públicos para a montagem das peças da escritora em Viena. Ontem, Haider divulgou um comunicando afirmando que 'dois sentimentos se debatiam em seu peito: por um lado me alegro que uma austríaca tenha sido premiada, mas por outro não devemos nos esquecer que Elfriede Jelinek há anos arrasta a Áustria para a sujeira'. Em Roma, o presidente do país, o social-democrata Heinz Fischer, disse que ficava muito feliz, 'de coração', com a notícia, e que se trata de um ?tributo à literatura austríaca?.

- Não quero que o Nobel tenha significado algum para a Áustria. Distancio-me totalmente do atual governo. Não estou certa de que todos que dizem se alegrar comigo se alegram de verdade - disse a escritora.

Pai de origem judaica e mãe da alta burguesia de Viena

Elfriede Jelinek, que estreou na literatura em 1967 com uma coletânea de poesias, é uma mulher que desperta paixões. Em 1996, suas peças foram de fato proibidas em teatros de Viena, mas dois anos depois voltaram com enorme sucesso de crítica e público. Feminista radical, ex-comunista, Jelinek também causa polêmica com sua escrita, na qual incorpora a linguagem popular da Áustria, assim como os estereótipos da sociedade de consumo, com críticas à imprensa, à política e um estilo difícil de ser traduzido. Quando lançou o best-seller 'Lust', em 1989, críticos de seu país disseram que sua linguagem era 'obscena, vulgar, repleta de blasfêmias'.

Na literatura de Elfriede Jelinek, o clima de conflito e agressividade contra o nazismo, o conservadorismo e o machismo tem origem na sua biografia. O pai, um químico judeu de origem tcheca, só sobreviveu ao Holocausto devido a seu trabalho. Mas quando Elfriede Jelinek era ainda jovem, ele foi internado numa clinica psiquiátrica, onde veio a morrer, em 1972. Assim como o pai, Elfriede também precisou ser submetida a tratamento psiquiátrico. Mas sua mãe, de uma família da alta burguesia de Viena, sempre a incentivou na carreira artística e ela estudou piano no conservatório de Viena (também toca órgão e flauta).

No fim dos anos 60, época em que entra em contato com o movimento estudantil, seus escritos ganham contornos mais políticos. No início dos anos 70, ela viveu alguns anos em Berlim e em Roma. Desde 1974, quando se casou, mora entre Viena e Munique. Seu nome começou a crescer diante do público quando lançou, em 1975, o romance 'As amantes', no qual a mulher é vítima do opressão sexual, tema se fará presente em toda a sua obra. Quando publicou ?A professora de piano?, em 1988, e o best-seller 'Lust', no ano seguinte, foi acusada de escrever obras pornográficas.

- Não trato da pornografia, mas da antipornografia. Mostro que a que a sexualidade, no contexto tradicional da relação de posse que existe no casamento, é uma forma de violência do homem contra a mulher ? comentou certa vez a escritora.

Sua relação de amor e ódio com a Áustria lembra a de outros escritores, como a de seu compatriota Thomas Bernhard (1931-1989), que no testamento expressou o desejo de que suas peças nunca mais fossem encenadas no país. Gerhard Ruiss, representante da Associação Austríaca dos Escritores, disse ontem que a direita deve desculpas à escritora.

- Nenhum austríaco teve um prêmio como esse nos últimos anos. Com o Nobel a Jelinek, a Academia de Estocolmo pune uma política de mentiras que diz que literatura é algo secundário. Espero agora uma série de pedidos de deculpas dos conservadores que tentaram impedir a divulgação da obra de Jelinek - disse Ruiss.

Alexander Potyka, da Federação das Editoras da Áustria, afirmou ontem que o prêmio não deve ser considerado 'da Áustria'.

- A obra de Elfriede Jelinek é exatamente contra esse tipo de usurpação. Seria uma paródia de sua literatura se o prêmio fosse transformado em algo nacional - observou.

COLABOROU Graça Magalhães-Ruether, de Berlim"

quarta-feira, outubro 06, 2004

Bêbados e equilibristas

Hoje foi um belo dia para a literatura contemporânea. Dois grandes jornais deram espaço para o novo com matérias e artigos. No JB (via Portal Literal), saíram os artigos de Marcelo Moutinho sobre "a geração 00" e Nelson Oliveira, organizador das coletâneas que mapearam a "geração 90".

Sem dúvida, a mais recente não "ganharia" esta alcunha sem a anterior. Eu não sou chegado a essa idéia de etiquetar autores por idade ou grupos. Acho que é apenas um modo de generalização e simplificação, tão necessárias para a imprensa (não que isso seja mal, admito), para tentar aglutinar essas pessoas com passados, presentes e futuros literários tão diferentes.

O mais importante desse papo de geração - e das antologias e matérias na imprensa que elas resultam - é que as pessoas se leiam, internamente, e que o público mais amplo conheça essas pessoas e o que escrevem. Acho que ainda estamos na primeira fase. Como a Beatriz Resende falou no debate do Sesc na segunda, em gerações literárias, primeiro as pessoas se leêm entre si e depois essa rede de pessoas cresce tanto que um dia arrebenta e consegue chegar ao grande público.

A segunda matéria do dia, assinada pelo Cassiano Elek Machado, foi o lançamento de "Uma Antologia Bêbada - Fábulas da Mercearia (Ciência do Acidente)", com 17 contos etílicos. Mereceu capa da Ilustrada (que moral!). Organizada pelo Joca Terron, a antologia tem nomes importantes como Marcelino Freire, Chico Mattoso e o já citado Nelson Oliveira. Comprarei assim que encontrar no Rio.

É isso. Vamos extrapolar o cordão de isolamento que afasta a literatura brasileira contemporânea do grande público. E sem perda de qualidade ou panelinha, fazendo o favor.

terça-feira, outubro 05, 2004

Diálogos espirituosos

- Certo é o duvidoso depois de um tapa na bunda e um sussurro rouco no seu ouvido.
- Você e suas frases de efeito.
[e ele dá o tapa na bunda dela]
- Vamos?
- Certo.



- Vamos conversar sobre o que nunca existiu?
- Quando?
- Amanhã às 7h.
- Passo na sua casa ainda hoje e resolvemos isso.
- Amanhã eu disse.
- Então. Passo hoje e faremos. Conversar não tá com nada.

segunda-feira, outubro 04, 2004

Procissão silenciosa


Quando acordo cedo sempre me sinto numa espécie de universo paralelo em que não sou convidado. Uma rinite alérgica e um pesadelo de fácil interpretação freudiana me obrigaram a levantar às 6h30 da manhã deste domingo chuvoso, dia de eleições municipais. Minha cadela, que me dava alergia com seus pêlos sempre em constante mutação, me mordia a coxa. Mas ela está morta, há meses. Naturalmente, acordei assustado e sufocado.

Confiando na tríade dos madrugadores (padaria-jornaleiro-farmácia), desci para fazer a ronda. Para minha surpresa, às 6h30 da manhã de domingo as pessoas na rua não exibem rostos de sono. Como um dia qualquer, tomam café pingado no balcão da padaria, silenciosos, mastigando cada pedaço dezenas de vezes, como que remoendo o que terão que fazer durante o dia.

O jornaleiro também me pareceu mais amigável. Nem sequer esboçou nenhum comentário quando fiquei folheando alguns jornais antes de levar o Globo. Parecia ter certeza da compra. Experiência, talvez. Quem folheia jornal às 7h acaba levando um deles para casa. Às 11h a coisa já é diferente. As pessoas parecem adquirir a consciência de que aquelas são notícias de anteontem, e não vale a pena perder muito tempo lendo folhas sujas. A farmácia, logo a que teria certeza que estaria aberta, estava com as portas cerradas. Me parece um contra-senso, mas, fazer o quê?

Depois de ler o jornal todo ? até a Revista do Globo (e como é ruim a Revista do Globo) -, fui votar logo por pura falta do que fazer.

Chuvinha fina e constante, militantes pagos por 10 reais o dia desanimados e protegidos pelas marquises, ruas sujas ou quase imundas. O clima eleitoral no Rio era de extrema preguiça e, graças a ela, grande parte até suspirou aliviado com a vitória de César Maia no primeiro turno. Perder mais alguns minutos de domingo para decidir entre o prefeito e o senador universal seria demais.

Voto no Fluminense, clube que atualmente visito de dois em dois anos. Quando criança, fui outras vezes lá ? em aniversários, na aba de sócios etc. O clube parece sempre igual, estacionado na década de 30 ou 40, com as paredes brancas e rachadas, os corredores longos e escuros, as escadas tortas e quebradiças.

É um belo clube, mas, pelo menos em dia de eleição, sempre me pareceu morto e organizado. Votar lá parece uma longa procissão, seguido de condolências rápidas na urna, e na volta outra procissão, como se novo enterro estivesse transcorrendo. Todos calados, consternados, em pares, sem mãos dadas, olhando para o chão. A inércia do domingo escoando como se fosse um bulevar de Bouville. Um grande desfile de mortos-vivos.

Assim foi meu domingo até às 10h. Existi quando deveria ainda estar sonhando.

Oferta na rede

Para o pessoal de fora do Rio que anda perguntando sobre o "Prosas Cariocas", uma boa idéia é comprar pela internet. Sei que ele está cadastrado na Livraria Cultura e na
Saraiva por 27 reais.

Quem não for trouxa pode comprar na Siciliano. Lá, o livro está com desconto. Sai por 24,30.

Nova prosa carioca

Hoje tem debate literário no Sesc Copa. Marcelo Moutinho media a mesa com o tema "A nova prosa carioca (quem é você, geração 00)". Participarão do debate os escritores Adriana Lisboa e João Paulo Cuenca, a critíca literária e professora universitária Beatriz Resende (UFRJ e Uni-Rio) e a jornalista Cristiane Costa (editora do Idéias, do JB). O Sesc Copa está localizado na rua Domingos Ferreira 160.

A Adriana e o Cuenca ainda ministrarão oficinas literárias gratuitas para os interessados. A dela será nos dias 5, 7, 11 e 14, e a dele acontecem nos dias 6, 8, 13 e 15, ambas sempre às 16h. As vagas serão reservadas (se ainda tiverem) pelos seguintes telefones (2547 0156 e 2548 1088).

sexta-feira, outubro 01, 2004

Porrada, porrada

Do Tutty Vasquez, No. Mínimo:

"Chega de hipocrisia!

A gente reclama das baixarias, mas debate político sem ofensa pessoal, francamente, não tem graça nenhuma. Quando os candidatos enveredam pela discussão de propostas, aí então ficam insuportáveis."


Ontem o debate carioca teve três bons momentos. O primeiro foi o Conde gritando em off contra o César Maia que o acusava de enriquecimento ilícito. Uma delícia ver dois ex-amigos brigando.

Depois foi a Jandira lendo uma passagem do livro do César Maia em que ele dizia que comprou uma pesquisa do Vox Populi na eleição de 1996 (em favor do Conde, que então era seu protegido). A cara de tacho dele e do Conde, que tinham acabado de brigar, foi ótima.

Aliás, como o cara escvreve uma coisa dessas em livro? Só sendo louco. E todo mundo sabe que o César Maia é surtado. Para quem não é do Rio, ele declarou que quando os netos não querem dormir ele liga a TV e coloca uma fita de vídeo do programa eleitoral da Jandira. Segundo Maia, a candidata é tão feia que seus netos começam a chorar e não discutem mais e vão dormir. Vê se isso é declaração que se dê?!

Mas meu momento favorito foi quando a Jandira - sempre ela - deu um cutucão na speaker Leilane Neubarth (que pedia para ela se apressar ou coisa parecida) dizendo para a ruiva da Globo que a opinião dela não tinha a mínima importância. Xiiiii.

Por sinal, a mediação foi péssima. A apresentadora estava nervosa e gaguejava a todo momento para escutar as orientações do ponto eletrônico. A Globo contratou a Marília Gabriela apenas para fazer ponta em novela? Por que não escalá-la no debate?

Meu voto? Em nenhum dos citados neste post...

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