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sexta-feira, setembro 30, 2005

Pedala, Roubinho

Chega a ser engraçado que a imprensa esportiva brasileira reaja com tamanho espanto a informação de que existe juiz ladrão no futebol. Essas pessoas não tiveram infância, nunca foram ao estádio, jamais gritaram com a boca cheia de biscoito Globo: Juiz ladrão!?

Achavam que tudo isso era apenas lenda urbana, que nenhum juiz levava o seu ali no escurinho do vestiário? Alguém já parou para pensar o motivo do uniforme do árbitro de futebol ter tanto bolso? Precisa guardar o quê na roupa, além dos raramente usados cartões amarelos e vermelhos e do lápis? Em algum lugar pelo Brasil um ex-jogador da Matonense deve testemunhar o caso de um juiz que, na ânsia de puxar o amarelo, deixou cair uma notinha de 50 reais. Porque ladrões são sempre os mais desconfiados. Dinheiro só no bolso, nada de deixar no vestiário que esse mundo tá cada vez mais desonesto.

Então você lembra do dia que aquele safado roubou seu time porque a outra equipe precisava da vitória para não ser rebaixada. O larápio é tão descarado que mesmo a imprensa daquele estado sabe que ele roubou, o presidente do seu time diz que o cabra só pode ter sido comprado, os jogadores do time favorecido sorriem amarelo e lembram tempos remotos em que também eles foram roubados. E não é que o juiz ainda é filho de ex-juiz? Aí nem precisa de julgamento: culpado.

"Desta vez, a ajuda não veio de Nossa Senhora Aparecida, a santa escolhida para amparar o desespero do Palmeiras à beira da segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Nesta quarta-feira, no empate em 1 a 1 com o Flamengo no Parque Antarctica, quem deu uma enorme força ao time paulista foi o trio de arbitragem.

O árbitro Giuliano Bozzano e os bandeirinhas Vawran da Silva Rosa e Carlos Berkembrock, todos de Santa Catarina, validaram um gol do Palmeiras cujo autor estava impedido e, alegando impedimento, anularam outro do Flamengo, marcado por um jogador em posição legal.

'Tinha uma quadrilha aqui querendo salvar o Palmeiras', afirmou um revoltado Hélio Ferraz, o presidente do Flamengo, questionado sobre a arbitragem.

Até os jogadores do Palmeiras reconheceram que o time foi beneficiado. 'O erro é humano. Se fosse contra nós, iríamos reclamar também. Ainda bem que foi a nosso favor. Não fosse isso, a coisa estaria pior', disse César..."


Nelson Rodrigues já escrevia sobre os aúreos tempos em que o juiz ladrão usava aquele bigodinho de bicheiro em viagem, em que o "de preto" tinha um peso gostoso na consciência, sabendo-se canalha. Hoje os tempos são de roubos por apostas em bingos, internet, que seja. É a modernidade, não tem diferença nenhuma em ganhar em espécie ou em cheque especial. E roubar é apenas para criar o factoíde, já que dar entrevista rende mais, ou tirar fotos do seu bebê-celebridade se fossemos entrar em outra seara.

"Sempre digo, nas minhas crônicas, que a arbitragem normal e honesta confere às partidas um tédio profundo, uma mediocridade irremediável. Só o juiz gatuno, o juiz larápio dá ao futebol uma dimensão nova e, se me permitem, shakespeariana. O espetáculo deixa de se resolver em termos especificamente técnicos, táticos e esportivos. Passa a ter uma grandeza específica e terrível. Eis a verdade: ? o juiz ladrão revolve, no time prejudicado e respectiva torcida, esse fundo de crueldade, de insânia, de ódio que existe, adormecido, no mais íntegro dos seres. O mínimo que nos ocorre é beber-lhe o sangue."

Que joguem de novo os 11 jogos, que escalem os árbitros mais suspeitos e que o time que perdeu dessa vez ganhe, mas ganhe roubado, que roubado em futebol é sempre mais gostoso.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Na tromba dos outros

LANCEPRESS!

"...O técnico Andrade não deve mexer apenas na defesa do Flamengo para o clássico contra o Fluminense, nesta quarta-feira, no Estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. As mudanças no setor defensivo serão forçadas pelas suspensões de Léo Moura e Júnior Baiano. Mas o Tromba ainda não decidiu se Obina, que desfalcou o time na vitória sobre o São Caetano por 2 a 0 por estar suspenso, voltará ao time titular..."

Jornalista é um preguiçoso por natureza (com perdão da generalização). Vibra por cada sinônimo que descobre. No caso do técnico do Flamengo, Andrade, o redator do Lance optou pelo desrespeitoso apelido Tromba. Jornalista não pode apelidar ninguém assim, muito menos quando o faz somente para facilitar sua vida e economizar tempo para pensar em outro sinônimo ou rescrever a porcaria do texto. Como diz o Tutty: "Ô raça".

terça-feira, setembro 13, 2005

Globo - há 50 anos

"Como sabem os leitores, Ari Barroso perdeu uma aposta no Fla-Flu, comprometendo-se a raspar o bigode que vinha usando há 30 anos. Haroldo Barbosa, seu antagonista, faria o mesmo caso o Flamengo vencesse. O ato de raspagem teria que ser público, no Bar Vilarinho, às 20h de ontem, mas lá não apareceu o popular compositor, que, depois de muitas peripécias, foi encontrado na casa de Dircinha Batista.

Ari Barroso ainda tentou comover os algozes, pedindo para ficar com o bigode mais uma semana, mas Haroldo Barbosa foi implacável, cobrando ali mesmo a dívida, quase que a facão. Antes de se despedir do bigode, Ari Barroso exclamou: 'Que o Flamengo se inspire no meu sacrifício'"

domingo, setembro 11, 2005

300 toques

Descobri na véspera do sarau que os textos tinham que ser de até 300 toques. Achei que eram contos pequenos, sem limite de tamanho. Mas deu para brincar de última hora com esses cinco textículos, que são um rebotalho de coisas velhas com algumas emendas e trechos de inéditos adaptados:


Traição

Vergonha é sentimento maior que palavra, não cabe em sílabas, ignora plural. Meus amigos dizem que a culpa não foi minha, e seria mais fácil que acreditasse. Mas o que posso fazer se à noite a verdade me vem em sonhos, se de olhos fechados o inconsciente me acusa, se toda manhã eu sinto sua falta no lado frio da cama.

Não há

Ninguém te ouve. Seu nome vai apagando-se aos poucos da memória das pessoas e das coisas, de quem vive ou já morreu. Espera que alguém lhe estenda a mão e te puxe para baixo, e rolando, rasgando, batendo, ralando, você enxergue no fim ao menos um sentido, uma voz, um consolo, que não vem.

Ninguém lhe vê

Em busca da concisão absoluta, o escritor frustrado sonhou ser Drummond e cortou, cortou todas as palavras. No meio da praça rasgou as folhas do seu livro inédito em micro-pedaços, o rosto lívido, procurando cúmplices entre os pedestres. Ninguém deu bola. Como mímico seguia sendo um péssimo escritor.


Ainda não é

A personagem misteriosa pagou a conta e saiu andando apressada, com medo que alguém a alcançasse. Atravessou a rua sem olhar para os lados. Morreu atropelada por um escritor preguiçoso. Seu corpo, estirado na rua, foi arrastado até a vala, onde repousa ao lado do bueiro. Pode ressuscitar um dia num romance policial.


Amargura

Cada rosto na rua um pai, cada beijo de língua sêmen, dia passado espera, mês menstruado não. Já converso com a minha barriga, sonho com os olhos verdes, espero que ele berre minha presença em choro todas as noites, que precise de mim. Mas um dia me trocará por outra, que nem o pai e todos os homens.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Sarau de Santa


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