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quinta-feira, agosto 31, 2006

FlaUram

O Flamengo, aquele time que não faz gols e vive rondando a zona de rebaixamento, é um clube arrendado. Quase a metade de seu elenco "pertence" ao empresário Eduardo Uram. Quando este senhor deseja que o atleta deixe o clube, ele sai na mesma hora, rendendo dividendos mínimos para o Fla(casos de Ibson e Jônatas). Quando ele quer colocar um jogador na vitrine, facilita para o Flamengo contratá-lo, como foi com o gordo, obeso Obina, ou o zagueiro Emerson, volante Goeber, todos de Uram. Grande parte dos jovens do grupo, como Júnior, Felyppe Gabriel e outros também têm Uram como procurador. O caso é tão grave que, com a contratação do goleiro Bruno, todos os cinco! atletas da posição que o time tem - nenhum deles presta - são de Uram.

E por que o Flamengo aceita essa posição desconfortável de depender dos interesses de um empresário?

Confira o elenco do FlaUram (se quiser comprar algum atleta, liguem para ele; de repente sai negócio):

Goleiros:
Diego
Getúlio
Marcelo Lomba
Wilson (está emprestado)
Bruno

Laterais:
Leonardo Moura
Juan
Egídio

Zagueiro:
Marlon
Marabá

Meias:
Vinícius Pacheco
Rodrigo
William
Fellype Gabriel

Atacantes:
Jajá
Obina

terça-feira, agosto 29, 2006

Listinha

Já que muita gente está fazendo essa listinha de sete coisas no Rio que mais gosta, copiando o que saiu no Globo, lá vai a minha (sem nenhuma vista panorâmica que não sou máquina fotográfica):

1 - filé à francesa do Lamas, depois das 16h, morrendo de fome;
2 - gritar "Ó meu Mengão, eu gosto de você...", no Maracanã lotado, como se não houvesse o amanhã;
3 - o primeiro gole do primeiro chope no Bar Luiz;
4 - jantar na Casa da Suiça com os meus pais e irmã;
5 - ver da rua minha mulher sorrindo na janela de primeiro andar do nosso ap;
6 - passear pelo Parque Guinle;
7 - assistir a um filme vespertino no Paysandu e voltar andando para casa comendo pipoca doce.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Querida leitora

O blog TodoProsa, do Sérgio Rodrigues, linkado ao lado, apresenta uma pesquisa cujo resultado aponta que 80% dos leitores anglófonos são mulheres:

'Faz alguns anos que pesquisas no mundo anglófono vêm denunciando a insignificância do papel masculino entre os leitores de ficção: os homens respondem por cerca de 20% do mercado. Só. Não foi à toa que o inglês Ian McEwan, um dos maiores escritores vivos, declarou ano passado: ?Quando as mulheres pararem de ler, o romance estará morto?.'

O restante do post aqui. Só esqueçam de abrir a caixa de comentários. Nada de útil lá.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Súplicas número 467

Ela não pensa mais em mim. Esqueceu de ontem, anteontem, da outra vida. Que combinamos o nome de nossos filhos, ser uma família grande e terrivelmente feliz, dançar em Buenos Aires sob a Torre Eiffel numa noite de lua crescente. Nossa lua seria sempre crescente, decidimos, jamais cheia, nunca minguante.

Eu lhe dei apelidos, inventei carinhos, sussurrei mentiras definitivas. O silêncio, silêncio como eco. Agora são apenas farelos atrás da porta, poeira encrostada nos móveis; lembranças daquilo que não será, ou foi.

O casal que brigava em público, beijava mordendo os lábios, gritava, berrava, eu-te-amo sem vergonha, sem ter vergonha.

Não mais.

Você não atende meus telefonemas, vira o rosto no messenger, esnoba minhas declarações de amor virtuais. Uma última vez eu lhe quis, segundos antes de me dizer definitivamente que não, não mais, jamais, quando olhava para o horizonte apoiada no parapeito da varanda, o vento despenteando seu cabelo e você toda mãos tentando arrumá-lo. Seus olhos cerrados e a praia lá longe trazendo lágrimas em forma de areia, tudo que não consegui nesse final. Você desmanchou comigo e não em lágrimas, pisou pesado e não aceitou minhas súplicas sinceras, finalmente sinceras.

No início, era o blog


Lendo a palestra que o Ricardo Piglia daria na Flip (gentilmente impresso e distruído gratuitamente pela Companhia das Letras, mesmo depois do cancelamento), sublinhei uma parte que achei interessante na questão dos diários na vida de escritores.

Para situar, Piglia escreve sobre a vida do polonês Witold Gombrowicz, que foi para a Argentina em 1939, fugindo da Segunda Guerra:

"O Diário de Gombrowicz (assim como o de Kafka ou o de Musil), é um exemplo da leitura dos escritores. 'Alguém que não mantém um diário não é capaz de valorizar corretamente um', escreveu Kafka.

Foi a partir da leitura do Diário de Gide, publicado na mesma época, que Gombrowicz se decidiu a utilizar essa forma. Obviamente, queria ser o anti-Gide e conseqüentemente usar seus escritos íntimos para intervir publicamente. O de Gombrowicz é um diário público, para usar as palavras de Vittorini. Ele escreveu suas leituras, suas opiniões, intervém, polemiza, fala de sua vida em Buenos Aires.

Nessa obra, única, nessas páginas que o tornarão conhecido, ele registra o acaso e a pobreza que definem suas leituras. ' Estou condenado a ler unicamente os livros que me caem nas mãos, já que não posso me permitir o luxo de comprá-los; meus dentes rangem quando vejo industriais e comerciantes comprando bibliotecas inteiras para enfeitar seus escritórios, enquanto eu não tenho acesso às obras de que faria um uso diferente.' "

Como referência, estão nas livrarias Ferdydurke, de Wiltord Gombrowicz, e O Último leitor, de Ricardo Piglia. Ambos recentemente publicados pela Companhia das Letras. Pelo que sei, o Diário de Gombrowicz não está no catálogo de nenhuma editora brasileira.

terça-feira, agosto 22, 2006

"A nossa família perdeu a guerra"

Escritor pacifista israelense medita sobre o seu filho, soldado morto no Líbano poucas horas antes do cessar-fogo

Por David Grossman*
especial para Le Monde

Meu caro Uri,

Já faz três dias que quase cada um dos nossos pensamentos começa com uma negação. Ele não mais virá; nós não mais falaremos; nós não mais riremos. Ele não estará mais aqui, esse rapaz de olhar irônico, com o seu extraordinário senso de humor. Ele não estará mais aqui, o jovem rapaz com a sua sabedoria bem mais profunda do que ela costuma ser na sua idade, com o seu sorriso caloroso e seu apetite repleto de saúde. Ela não mais existirá, essa rara combinação de determinação com delicadeza. Daqui para frente, o seu bom-senso e seu coração generoso estarão ausentes.

Nós não mais teremos a infinita ternura de Uri, nem a tranqüilidade com a qual ele apaziguava todas as tempestades. Nós não mais assistiremos juntos aos "Simpsons" ou aos "Seinfeld"; nós não mais ouviremos juntos os discos de Johnny Cash e nós não mais sentiremos o seu abraço forte. Nós não mais o veremos andar e falar com o seu irmão primogênito Yonatan, gesticulando com ímpeto, e, nós não mais o veremos beijar sua irmãzinha Ruti, que você tanto amava.

Uri, meu amor, durante toda a sua breve existência, nós todos aprendemos com você. Com a sua força e a sua determinação a seguir o seu caminho, mesmo sem possibilidade de sucesso. Nós acompanhamos, estupefatos, a sua luta por ser admitido na formação dos chefes de tanque. Você não cedeu ao aviso dos seus superiores, porque você sabia poder ser um bom chefe e não estava disposto a dar menos do que aquilo de que era capaz. E quando você chegou lá, eu pensei: aqui está um rapaz que conhece de maneira tão simples e lúcida as suas possibilidades. Sem pretensão nem arrogância. Um rapaz que não se deixa
influenciar pelo que os outros dizem dele, e que encontra a força nele
mesmo.

Desde a sua infância, você já era assim. Você vivia em harmonia com si mesmo e com aqueles que o cercavam. Você sabia qual era o seu lugar, você estava consciente de ser amado, você conhecia os seus limites e suas virtudes. E na verdade, após ter dobrado o exército inteiro e ter sido nomeado chefe de tanque, apareceu claramente qual tipo de chefe e de homem você era. E hoje, nós ouvimos os seus amigos e seus soldados falarem do chefe e do amigo, daquele que levantava antes de todos para tudo organizar e que só ia deitar-se quando os outros já estavam dormindo.

E ontem, à meia-noite, eu contemplei a casa, que estava bastante bagunçada depois que centenas de pessoas vieram nos visitar para nos consolar, e eu disse: seria preciso que Uri estivesse aqui para nos ajudar a arrumar.

Você era o esquerdista do seu batalhão, mas você era respeitado, porque você mantinha suas posições sem renunciar a nenhum dos seus deveres militares. Eu me recordo de que você me havia explicado a sua "política das barragens militares", porque você também havia passado bastante tempo naquelas barragens. Você dizia que caso houvesse uma criança no carro que você acabava de deter, você tentava antes de tudo tranqüilizá-lo e fazê-lo rir. E você se lembrava daquele menino mais ou menos da idade de Ruti, e do medo que você lhe causava, e do quanto ele o detestava, com razão. Contudo, você fazia todo o possível para tornar-lhe mais fácil aquele momento terrível, enquanto você cumpria o seu dever, sem compromisso.

Quando você partiu para o Líbano, a sua mãe disse que a coisa que ela mais temia era a sua "síndrome de Elifelet". Nós tínhamos muito medo de que, assim como o Elifelet da música, você se precipitasse no meio do tiroteio para salvar um ferido, que você seja o primeiro a se apresentar como voluntário para o reabastecimento das munições há muito esgotadas. E temíamos que lá em cima, no Líbano, nesta guerra tão dura, você se comportasse assim como fizera durante toda a sua vida, em casa, na escola e no serviço militar, propondo renunciar a uma permissão porque um outro soldado dela mais precisava do que você, ou porque tal outro enfrentava em sua casa uma situação mais difícil.

Você era para mim um filho e um amigo. E era a mesma coisa para a sua mãe. A nossa alma está ligada à sua. Você vivia em paz com si mesmo; você era daquelas pessoas junto às quais, alguém se sente bem. Eu nem sou capaz de dizer em voz alta a que ponto você era para mim "alguém para correr comigo" (título de um dos mais recentes romances do autor).

Toda vez que você voltava em permissão, você dizia: venha comigo, pai, vamos conversar. Em geral, nós íamos sentar e discutir num restaurante. Você me contava tantas coisas, Uri, e eu tinha orgulho por ter a honra de ser o seu confidente, orgulho de que alguém como você tivesse me escolhido.

Recordo-me da sua dúvida, certa vez, diante da idéia de punir um soldado que havia infringido a disciplina. O quanto você sofreu porque esta decisão iria causar raiva naqueles que estavam sob as suas ordens e nos outros chefes, bem mais indulgentes do que você diante de certas infrações. Punir aquele soldado custou-lhe efetivamente muito do ponto de vista das relações humanas, mas este episódio especificou transformou-se posteriormente numa das histórias cardeais do batalhão como um todo, estabelecendo certas normas de comportamento e de respeito das regras. E durante a sua última permissão, você me contou, com um orgulho tímido, que o comandante do batalhão, por ocasião de uma conversa com alguns oficiais recém-chegados, havia citado a sua decisão como exemplo de um comportamento justo por parte de um chefe.

Você iluminou a nossa vida, Uri. A sua mãe e eu, nós o educamos com amor. Era tão fácil amar você com todo o nosso coração, e eu sei que você também estava indo bem. Que a sua curta vida foi boa. Eu espero ter sido um pai digno de um filho tal como você. Mas eu sei que ser o filho de Michal quer dizer crescer com uma generosidade, uma graça e um amor infinitos, e você recebeu tudo isso. Você o recebeu em abundância e soube dar-lhe valor, você soube agradecer, e nada daquilo que você recebeu era algo devido aos seus olhos.

Nesses momentos, eu nada direi da guerra na qual você foi morto. Nós, a
nossa família, nós já a perdemos. Israel, agora, vai fazer o seu exame de consciência, e nós nos encolheremos em nossa dor, cercados dos nossos bons amigos, abrigados pelo amor imenso de tantas pessoas que, na sua maioria, nós não conhecemos, e que eu agradeço pelo seu apoio ilimitado.

Eu gostaria tanto que nós saibamos dar uns aos outros este amor e esta
solidariedade em outros momentos também. Talvez seja este o nosso recurso nacional o mais peculiar. Talvez seja esta a nossa grande riqueza natural. Eu gostaria tanto que nós possamos nos mostrar mais sensíveis, uns para com os outros. Que nós possamos nos livrar da violência e da inimizade que se infiltraram tão profundamente em todos os aspectos das nossas vidas. Que nós saibamos mudar de opinião e nos salvar agora, bem no último momento, isso porque tempos muito duros esperam por nós.

Eu gostaria ainda de acrescentar algumas palavras. Uri era um rapaz muito israelense. O seu próprio nome era muito israelense e hebreu. Uri era um condensado da qualidade de ser israelense tal como eu gostaria de ver mais por aí. Aquela que passou a ser praticamente esquecida. Que é tantas vezes considerada como uma espécie de curiosidade.

Por vezes, ao olhar para ele, eu pensava que ele era um jovem um pouco
anacrônico. Ele, Yonatan e Ruti. Crianças dos anos 1950. Uri, com a sua
honestidade total e a sua maneira de assumir a responsabilidade de tudo o que acontecia em volta dele. Uri, sempre "em primeira linha", com quem se podia contar. Uri com a sua profunda sensibilidade para com todos os sofrimentos, todas as culpas. E capaz de compaixão. Esta palavra me fazia pensar nele toda vez que ela me ocorria.

Era um rapaz que tinha valores, uma palavra bastante aviltada e alvo de
gozação nesses últimos anos. Isso porque em nosso mundo demente, cruel e cínico, deixou de ser "cool" ter valores. Ou ser humanista. Ou sensível ao desamparo de outrem, mesmo se o outro é o seu inimigo no campo de batalha.

Mas eu aprendi com Uri que se pode e se deve ser tudo isso ao mesmo tempo. Que nós devemos, de fato, nos defender. Mas isso nos dois sentidos: defender as nossas vidas, mas também obstinar-se a proteger nossa alma, obstinar-se a preservá-la da tentação da força e dos pensamentos simplistas, da desfiguração do cinismo, da contaminação do coração e do desprezo do indivíduo que são a verdadeira, a grande maldição daqueles que vivem numa região de tragédia tal como a nossa.

Uri tinha simplesmente a coragem de ser ele mesmo, sempre, qualquer que seja a situação, de encontrar a sua voz precisa em tudo o que ele dizia e fazia, e era isso que o protegia da contaminação, da desfiguração e degradação da alma.

Uri era também um rapaz divertido, muito engraçado e de uma sagacidade
incrível, e seria impossível falar dele sem contar alguns dos seus
"achados". Por exemplo, quando ele tinha 13 anos, eu lhe disse: imagine que você e os seus filhos possam um dia ir para o espaço assim como hoje nós vamos para a Europa. Ele me respondeu sorrindo: "O espaço não me atrai tanto, a gente encontra tudo na Terra".

Outra vez, andando de carro, Michal e eu falávamos de um novo livro que
havia suscitado um grande interesse e nós citávamos escritores e críticos. Uri, que devia ter nove anos, nos interpelou do banco de trás: "Hei, os elitistas, peço-lhes por gentileza notar que vocês têm atrás de vocês um simplório que não está entendendo nada do que vocês estão dizendo!"

Ou, por exemplo, Uri que gostava muito de figos, segurando um figo seco em sua mão: "Pai, me diz uma coisa, os figos secos são aqueles que cometeram um pecado na sua vida anterior?"

Ou ainda, numa certa ocasião em que eu hesitava a aceitar um convite para ir ao Japão: "Como você poderia recusar? Você sabe o que significa morar no único país onde não existem turistas japoneses?"

Caros amigos, na noite de sábado para domingo, às vinte para as três,
tocaram em nossa porta e no interfone, e um oficial anunciou-se. Eu fui
abrir e pensei: pronto, a vida acabou.

Mas, cinco horas mais tarde, quando Michal e eu entramos no quarto de Ruti e a acordamos para dar-lhe a terrível notícia, Ruti, após as primeiras lágrimas, disse: "Mas nós viveremos, não é? Nós viveremos e nós passearemos como antes. Eu quero continuar a cantar no coral, a rir como sempre, a aprender a tocar violão". Nós a abraçamos e lhe dissemos que nós iríamos viver, e Ruti disse também: "Que trio extraordinário nós formávamos Yonatan, Uri e eu".

E é verdade que vocês são extraordinários. Yonatan, você e Uri, vocês não eram apenas irmãos, e sim amigos do peito e da alma. Vocês tinham um mundo de vocês, uma linguagem de vocês e um humor de vocês. Ruti, Uri amava você com toda a sua alma. Com que ternura ele se dirigia a você. Eu me lembro do seu último telefonema, após ter me dito a sua felicidade ao saber que um cessar-fogo havia sido proclamado pela ONU, ele insistiu para falar com você. E você chorou, depois. Como se você já soubesse.

A nossa vida não acabou. Nós apenas sofremos um golpe muito duro. Nós
encontraremos a força para suportá-lo, em nós mesmos, no fato de estarmos juntos, eu, Michal e os nossos filhos, e também o avô e as avós que amavam Uri com todo o seu coração - eles o chamavam Neshumeh (minha pequena alma) - e os tios, as tias e os primos, e os seus inúmeros amigos da escola e do exército que nós acompanham com preocupação e afeição.

E nós encontraremos a força também em Uri. Ele possuía forças que nos
alimentarão por muitos anos ainda. A luz que ele projetava - de vida, de vigor, de inocência e de amor - era tão intensa que ela continuará a nos iluminar mesmo depois de o astro que a produzia ter se apagado. O nosso amor, nós tivemos o grande privilégio de estar com você, obrigado por cada momento em que você esteve conosco.

Papai, mamãe, Yonatan e Ruti.

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O sargento Uri Grossman, comandante de um tanque Merkava, completaria 21 anos dentro de duas semanas. Ele morreu ao ser atingido por um míssil antitanque na madrugada de 12 para 13 de agosto, na região leste do Líbano, nos combates mais sangrentos efetuados pelo Exército israelense contra o grupo terrorista libanês Hizbollah desde o início do conflito, em 12 de julho.

Os combates, 48 horas antes da entrada em vigor do cessar-fogo, provocaram 24 mortes no lado israelense.

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*Autor de uma dúzia de romances traduzidos no mundo inteiro, David Grossman é uma das figuras as mais marcantes da literatura israelense.

Nascido em Jerusalém em 1954, ele tornou-se célebre com a sua primeira obra, "O Vento Amarelo" (1988), na qual ele descreveu os sofrimentos impostos pela ocupação militar israelense aos palestinos.

Alguns dias antes da morte do seu filho, ele havia lançado, junto com os escritores Amos Oz e A. B. Yehoshua, primeiro num artigo de opinião
publicado no jornal "Haaretz", e então por ocasião de uma coletiva de
imprensa, um apelo ao governo israelense para que ele pusesse fim às
operações militares no Líbano. Os três homens de letras, considerados como próximos ao "campo da paz", haviam apoiado a resposta ao ataque do
Hizbollah, mas consideravam inútil a extensão da ofensiva decidida em 9 de agosto.

Principal livro de David Grossman editado no Brasil: "Alguém Para Correr Comigo" (2003, Companhia das Letras)

Tradução: Jean-Yves de Neufville

sexta-feira, agosto 18, 2006

Quick note

Só para deixar claro, esse "sofrer é a continuação de sofrer" aí de cima é uma frase que retirei do Nenhum Olhar, livro maravilhoso (tô em fase de elogios) do José Luís Peixoto.

Ah, também é a epígrafe do meu romance.

quarta-feira, agosto 16, 2006

A História do amor

Quando estávamos saindo de Paraty (sim, eu acabei indo, mas isso é outra história), ligamos o rádio e uma voz com rastros de choro, rouquidão triste, preencheu o silêncio com seu tom lamurioso, em inglês. Era Nicole Krauss.

Pela manhã, na entrada da palestra da Adélia Prado, peguei o livrinho teaser do que seria lido pela Nicole em sua mesa com o Edmund White às 15h. Esse livrinho era um trecho do primeiro capítulo d´A História do Amor.

Antes do almoço li e resolvi comprar o livro, única aquisição literária nas minhas 45 horas de Flip. Ao voltar para o hotel para pegar minha mochila, pouco antes das 15h, ainda cruzei com o Jonathan Safran Foer, marido da moça, e cuja palestra eu achei a melhor da Flip, empurrando o carrinho com o bebê do casal: uma família feliz e talentosa.

No carro, a voz de Nicole sumiu rapidamente ao cruzarmos os limites da cidade. Em casa, não. O livro é ótimo, me deixa feliz e triste na mesma proporção, como duas sombras bipartidas que vão se alastrando a partir da mesma pessoa. É tão bem escrito que dá inveja.

Não farei resumo, isso não interessa num post, mas é uma pena que as páginas para o final são cada vez menos, e leio mais devagar de propósito, pois não quero me separar do livro tão cedo. Talvez eu faça como o personagem do conto do Cuenca no Prosas, e não leia a última página do livro, para ter sempre a sensação de que posso voltar a ele e descobrir, pensar, sentir coisas novas. Medo que as sombras se soltem.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Entrevistando um mendigo

Quando um estudante entra na faculdade de jornalismo, normalmente tem na cabeça duas pautas que julga mirabolantes: entrevistar uma puta e um mendigo. Alguns querem inclusive fazer as duas coisas ao mesmo tempo, coitados, e esses invariavelmente terminam a carreira como redatores de jornais evangélicos - e não me perguntem o motivo.

No meu caso, minha pauta fantástica - que nunca fiz - era sentar para fazer um perfil dos aposentados que gastam todo seu dinheiro no Jóquei. Quem já sentou naquelas arquibancadas de madeira sabe que em cada fileira vazia mora uma puta entrevista.

Mas, por um acaso da vida, acabei conversando mesmo foi com um mendigo. Não foi exatamente uma entrevista, mas um papo, em circusntância curiosa, que transcrevo abaixo. Mas antes deixa eu contar um pouco sobre esta pessoa:

Morei 20 anos no mesmo prédio, e vez por outra passava pela Rua São Salvador indo para casa. Só que mudei para outra rua há seis meses, e hoje diariamente cruzo com este mendigo - que pelo que lembro está lá há 10 anos - quando volto do trabalho. É um senhor de idade indefinida, pode ter 50 anos, deve ter menos de 40, pele acizentada pela sujeira e barba por fazer. Cabelo enrolado, curto, com uma aureola de careca no centro. Carrega sempre um saco de lona nas costas, e dorme sentado, encostado num canteiro, no meio da calçada.

Hoje, não sei por que motivo, entreguei uma nota de um real a ele.

É a primeira vez que me dá dinheiro [ele disse]

Como você sabe?

[algo inteligível] Sabendo.

É que sempre passo por aqui e te vejo. Hoje resolvi ajudar.

[neste momento ele acena para uma senhora que passa na rua, que lhe dera tchau antes]

Conhece?

Mora ali na frente, sempre me deixa um pão à noite.

Sabe o nome dela?

Não, você sabe?

Muita gente te dá coisas?

Dá sim. [apontou para om saco, mas não mostrou o conteúdo]

E a concorrência? [agora três mendigos, pelo que eu saiba, dormem na rua]

Eles só ficam aqui de noite. De dia não sei onde vão.

Conversa com eles?

Pra quê?

Depois dessa resposta, preferi ir embora. Já estava passando um pouco dos limites. Acenei para ele e vim para o trabalho.

domingo, agosto 06, 2006

Flip

A minha impressão ao ler as ótimas matérias do Prosa & Verso desta sábado é de que a Flip 2006 promete ser melhor do que a de 2005. Autores literários - e na Flip atual isso é claramente distinguível -, devem cativar os presentes com meandros da criação, o que pouco ocorreu ano passado, quando apenas José Luís Peixoto (quando vão lançar por aqui os outros livros dele?) e David Grossman me encantaram - das cinco ou seis palestras que vi, obviamente.

Preocupa um pouco que a organização insista com algumas mesas com três autores, o que não dá certo, visto que cada palestrante fala muito pouco e é prejudicado ainda mais pela fórmula engessada de leitura de textos, perguntas ruins de mediadores despreparados.

Deste grupo, destaco Toni Morrison, David Toscana, Jonathan Safran Foer, Ali Smith, Nicole Kraus, entre os estrangeiros, e André Sant´anna, André Laurentino e Ignácio de Loyola Brandão, entre os brasileiros.

Por outro lado, parece que a Flip quer se colocar nitidamente como um festival literário político e jornalístico, o que a longo prazo, novamente na minha opinião, deve se provar uma escolha equivocada. Paraty e o clima da Flip - quem já curtiu o clima de festa da Festa sabe - não combinam com um debate mais aspero. Aliás, não sei até que ponto um debate de pouco mais de uma hora com um público de 300 pessoas possa ser efetivo. Deste time, a grande estrela parece ser Christopher Hitchens, que, sinceramente, não conhecia até ler a ótima entrevista que o Miguel Conde fez com ele para a capa desta edição do PV. Também promete, ou prometia, a palestra com Ricardo Piglia (a Folha diz que ele não vem mais).

*

Ah, eu não vou à Flip.

*

No que me remete a um texto que escrevi para o Paralelos após a Flip de 2004, quando fui, assim como em 2005.

Eu não fui à FLIP


Foi botar o pé no Rio e as perguntas começaram. E aí, como foi a FLIP? Viu sicrano, viu beltrano? Fez isso, fez aquilo? E não, não, não, não. Talvez tenha sido um aviso quando me atrasei para a palestra de novos escritores, logo na manhã do segundo dia, e perdi por alguns minutos a leitura do Joca Terron que todo mundo elogiou.

No dia anterior já tinha perdido a tal da palestra do Arriguci sobre o Guimarães Rosa que o Milton Hatoum falava de 15 em 15 minutos na Oficina. O show do Wisnik com a canja do Uakti, que o Sergio Sant?anna comentou depois? Também não vi. Estava bebendo cerveja.

Pelo menos tenho esse salvo conduto, perdi muita coisa por estar bebendo cerveja. A palestra do Caetano e do Agualusa, o queridinho das moçoilas, segundo o JB? Não vi. Me contaram depois que o livro do cara esgotou na hora. Passou na TV. Mas eu nunca vi o Agualusa.

Ah, mas o Suplicy você viu? O jornal falou que ele estava em todas. Não! O Veríssimo na festa fechada do Ruy da Travessa? Não. E nesse caso foi ainda pior, porque eu estava na festa ? e quando você pensar em festa pense em uma varanda de 20 metros quadrados. De famoso eu vi o Gugu Liberato. Ou foi a cerveja?

O urubu que ganhou o apelido de Urubaldo ? não vi. O Ferréz falando sobre desigualdade racial sendo aplaudido de pé numa platéia com apenas três negros na tenda dos autores? Apenas li.

Mas a pelada você jogou. Tenho certeza, você estava na oficina, é louco por futebol. Não. Assistiu pelo menos? Não fui chamado. Não sei nem que dia foi. Já que tomou tanta cerveja você estava na mesa do Luiz Vilela no Beija-Flor? O que é Beija-Flor?

Na pousada dos novos escritores você tava, né? Sim. Então ouviu o cara roncando. Nem um barulhinho sequer. Bêbado tem sono pesado. A zona na pousada, o woodstock literário, nego fumando tanto que o ambiente era só névoa. Aconteceu isso?

Mas teve até aspas sua no JB na matéria da pousada. Pois é, o pior é que nessa eu estava lá, mas não falei bem aquilo. Não? E nem meu nome escreveram certo, percebeu? Mas deixa isso para lá.

Mas então você não aproveitou a FLIP?! Aí que você se engana. O melhor nunca sai nos jornais. Ano que vem eu não vou para a FLIP de novo.

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