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segunda-feira, janeiro 07, 2008

O menino da rosa

O pai pergunta para o menino o que ele quer ser quando crescer. As respostas ensaiadas na ponta da língua. Jogador de futebol, engenheiro... até que: caminhão.

Inventada ou não, memória ou imaginação, essa resposta é o ponto de inflexão do menino. No momento em que ele quis ser caminhão, por pelo menos um segundo, ele pôde, poderia escrever um livro de uma beleza pura, translúcida como esse O menino da rosa.

Tony Monti é o filho de Rosa na vida real, está lá na dedicatória do livro. Mas esse não é o mesmo escritor que lançou um livro chamado O mentiroso (7 Letras, Prêmio Nascente 2003)? Será que esses minicontos, ou contos de um suspiro, são memórias da infância do menino Tony?

Mas importa?

Importante ou não, vale uma reflexão. Três dos livros de ficção de que mais gostei em 2007 são confessadamente baseados em fatos reais da vida do autor. Vale para esse O menino da rosa, como para os ótimos O filho eterno, de Cristovão Tezza, e para A chave de casa, de Tatiana Salem Levy. Da boca do Tony ainda não ouvi (ou li), dos outros dois sei que suas experiências foram base para seus romances. Não que o escritor não tenha tido trabalho, possivelmente o contrário. Cavoucar sentimentos sabendo que são seus deve ser ainda mais desgastante. Debruçar no passado sabendo o que é o futuro, o que não foi o futuro, é dor.

No livro do Tezza, o choque das páginas iniciais, quando o narrador confessa que torcia, secretamente, para que o filho com Síndrome de Down morresse ainda jovem, para que o tormento do pai acabasse logo - e ainda, perversão maior, saísse glorificado pelos amigos e conhecidos como o pai que se sacrificou.

Na personagem-narradora da Tatiana, as fraquezas expostas. A incapacidade de reagir ao mundo real injusto, dolorido. Os sonhos irrealizáveis teimando em amarrar a narradora na cama, impedindo de realizar qualquer coisa, até se decepcionar. Mas aí os diálogos com a mãe, um alter ego gigantesco criando uma sombra sobre a filha para depois tirar-lhe o guarda-sol, os óculos escuros, a cadeira de praia, o chão.

A mãe do Tony aparece pouco no livro, basta o peso do título. O pai também não é tão grande. Estão lá a irmã, a futura primeira namorada, o jardim de um quintal minúsculo e infinito, a família italiana, o caminhão. E basta.

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