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sexta-feira, outubro 31, 2003

Quem estava no show de ontem

Como a night carioca é engraçada. Reunidas no mesmo local figuras díspares como Daniela Mercury, incógnita nas arquibancadas, e Artur Dapieve, grande colunista, envergando uma camisa (sem número) da gloriosa Udinese, do gênio Zico.

O Dapieve devia estar tentando trazer bons augurios para o Botafogo, que terá uma pedreira amanhã contra os Parmeiras.

Eu acho as colunas do Dapieve muito boas, especialmente quando ele escreve sobre rock e futebol. Já troquei e-mails com ele há alguns anos, quando comentou sobre um livro do Camus em sua coluna. Respondeu meu e-mail na mesma hora com muita educação e boa vontade. Me indicou até um sebo para comprar o Mito de Sísifo, que eu não estava achando em lugar nenhum.

Portal do Esporte

Quem também estava ontem no show era Marcelo Barreto, editor do finado Portal do Esporte, o-melhor-site-de-esportes-do-Brasil, mas que de fato nunca entrou no ar.

Não falei com o ex-chefe, mas creio ter ouvido da sua boca a lembrança triste da coincidência de datas: o Portal terminou há exatos 2 anos!

Como o tempo voa. Se a experiência foi fugaz, pelo menos as amizades continuaram: Cauê, Emiliano, Gustavo, Vitor, Ogata, Daniel David Cohen...

É uma pena que pessoas tão queridas como Bala, Bala 2, Psicobala, Máquina, Mandíbula e Frédson tenham deixado a convivência da galera.

quinta-feira, outubro 30, 2003

Novo bar

Meu amigo Rodrigo, sua namorada e mais dois amigos abrirão nas próximas semanas um bar em Laranjeiras. Como ele é um excelente copo, tenho certeza que muitas Bohemias serão entornadas nos anos que virão.

IMPRESSÕES 4

Flaneur

Sou um fantasma que anda pela rua sem ser visto. A menina, com pudor, olha pra baixo. O rapaz, passo firme, olha por cima do meu ombro, com receio de ser chamado de viado se encarar outro homem nos olhos. Sorrio para uma garota, quinze aninhos, achando que tenho a idade dela. Aprecio suas curvas nascentes, seios de pêra, coxas queimadas pelo sol do verão e torneadas pelo primeiro mês de academia. Olho para ela jogando charme, esquecendo que não tenho mais a idade dela, mas sim o dobro, e seria preso se a tivesse na cama.

Sou um velho fantasma, transparente, amorfo, que caminha pela grande cidade desapercebido, esbarrando em ombros alheios, que nem ao menos se viram para me xingar, aceitam, tem medo de perder tempo, o seu tempo, a sua vida, que passa, sem nada alcançarem, se é que alguma coisa precisasse ser alcançada de fato. Sigo andando, olhando adolescentes, esbarrando em executivos, me desculpando para o silêncio, sem sentir frio ou calor, andando.


quarta-feira, outubro 29, 2003

Histórias da Liga do Nordeste - Parte 2

Essa aconteceu comigo. A pauta era a seguinte: repercutir a demissão do técnico do Botafogo-PB, Zé do Carmo, aquele mesmo, volante do Vasco. Demissão de técnico é algo rotineiro no futebol, raramente alguma história interessante sai disso, mas dessa vez tinha alguma coisa no ar, pois o Belo (acredite se quiser o apelido do Bota-PB é esse) vinha apenas treinando há 40 dias, no intervalo do Campeonato do Nordeste e o estadual. Logo na estréia da equipe (e tambem do técnico) o Bota-PB tomou uma piaba de um time fraco do interior. Uma derrota na estréia é motivo para demissão?

Em defesa dos oprimidos, primeiro liguei para o demitido. Ocupado.

Tudo bem, o correto seria primeiro consultar o dirigente do Belo. Jaildo Dantas tinha assumido o Botafogo-PB (arrendado seria melhor colocado) há alguns meses, pregando a modernização do clube. Pagava o salário dos jogadores, técnicos e funcionários com o dinheiro do próprio bolso, ou seja, era o dono do clube.

Conversa vai, conversa vem, eu pergunto com mais detalhes porque ele demitiu o Zé do Carmo após somente uma derrota. Transcrevo aqui sua resposta:

“Ele trabalhou mais de 40 dias e perdeu para o pior time do campeonato de goleada. Assim não dá. E tem mais. Falei para ele não fazer aquela jogadinha ensaiada de cobrar o escanteio com dois jogadores, que nunca dá certo, mas ele fez seis vezes. Já tinha avisado para ele que mesmo se fosse gol daquele jeito eu anularia.”

Pronto, estava lá mais uma história para o anedotário do futebol brasileiro. Um técnico foi demitido por mandar os jogadores cobrarem o escanteio curto, à revelia do dono da equipe. E se a bola entrasse - vocês prestaram atenção na declaração? - ele anularia!


Letra

O pouco que sobrou

(Marcelo Camelo)

Eu cansei de ser assim
Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim
Por onde eu devo ir?
A vida vai seguir
Ninguém vai reparar
Aqui neste lugar
Eu acho que acabou
Mas vou cantar pra não cair
fingindo ser alguém
que vive assim de bem
Eu não sei por onde foi
Só resta me entregar
Cansei de procurar
o pouco que sobrou
Eu tinha um amor
Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia
manda essa cavalaria
que hoje a fé me abandonou

Previsões sobre a temporada da NBA

Meu texto dessa semana no Blig Sports é uma lição de cara-de-pau jornalística. Dei uma de Gato Mestre e arrisquei meus palpites para a temporada da NBA.

O San Antonio Spurs, que, adianto para os leitores do blog, é meu favorito para a conquista do campeonato, estreou com vitória nesta terça. Mesmo jogando mal derrotou o Phoenix por um ponto 83-82.

Uma pena que o técnico dos Suns preferiu não colocar o Leandrinho na partida, mesmo com as fracas atuações de Joe Johnson (acertou um de 10 arremessos tentados) e do ex-jogador em atividade Penny Hardaway, que trotou com a delicadeza de um boi gordo pela quadra.

Cidade dos Homens

Chega a impressionar a transformação desta série. Ano passado, seguindo o molde de Cidade de Deus, este foi um programa elogiadíssimo, capaz de levar os problemas das favelas para o horário nobre da Globo.

O programete desta terça, dirigido pela Regina Casé, foi algo que só pode ser descrito como uma pré-Malhação politicamente correta. A Globo consegue pasteurizar tudo. Até a história de favelado ganha ares de novelinha.

Playboy surfista x favelado que não sabe pegar onda. Patricinha que quer experimentar ficar com o pobre. Garota do morro que quer dar para estrangeiro. Faça-me o favor!

terça-feira, outubro 28, 2003

Histórias da Liga do Nordeste - Parte 1

Ano passado trabalhei no site do Campeonato do Nordeste. Fazíamos uma cobertura excelente para um torneio bem organizado, mas com times fracos.

Certa vez ligamos (escrevo ligamos porque não lembro se fui eu ou outra pessoa) para o então técnico do Sergipe, José Ângelo, para repercutir uma vitória de sua equipe.

Faltavam poucas rodadas para o final do campeonato, que tinha 16 equipes e classificava quatro para a fase seguinte. Entusiasmado pela primeira vitória, o técnico foi taxativo:

- Vamos partir para a classificação!

A frase feita poderia passar em branco, se o Sergipe não estivesse em 14o no campeonato e sem chances matemáticas de passar para a fase seguinte.

Quando foi avisado da gafe pelo repórter, José Ângelo saiu com essa:

- Ué, mas quando eu fui contratado me disseram que entravam oito equipes.

Lembrei dessa história ao ler no Lancenet que José Ângelo foi demitido do América-MG. Vai ver achou que o Coelho ainda estava na disputa para subir para a Serie A.


segunda-feira, outubro 27, 2003

João Paulo Cuenca

Na última sexta-feira, JP Cuenca lançou seu primeiro romance, chamado Corpo Presente (Ed. Planeta, 35 reais) na Travessa. Ainda não comprei o livro, mas se for do mesmo nível da crônica que ele escreveu para a Tribuna da Imprensa, que está publicada no blog dele, deve ser sensacional.

Vai aí uma passagem:

"Antes de chegar à livraria, saltei do ônibus e caminhei por Ipanema como quem se dirige a uma penitenciária. Já sentado e bebendo algumas cervejas, esperei a chegada de todos com aquela cara de cachorro triste, noiva insegura e criança que o pai esqueceu na escola. Quem chega ali não sabe, mas lançar um livro talvez seja um dos momentos mais vulneráveis da vida de um escritor. Escondido entre assinaturas e dedicatórias vãs, por trás de uma mesa, o sujeito está sozinho como nunca. E a enorme livraria fez meu cadafalso ficar mais alto, as madeiras de passo incerto, bambas. Tendo que assumir um filho de pai só, descortinando entre páginas que não pretendo reler, escondia meu constrangimento em sorriso, beijo e abraço."

Para ler o resto, aperte neste link e entre no blog do próprio autor.

domingo, outubro 26, 2003

Personagens de conto

Ontem, no Plebeu, tinha um casal bebendo na mesa ao lado da qual eu estava sentado. Durante três horas nenhum dos dois falou uma palavra sequer para o outro. Miravam a televisão, que passava um desagradável Ultimate Fighting, e bebericavam cerveja. Em silêncio. Por três horas!

sexta-feira, outubro 24, 2003

TIM Festival

Já estou com os ingressos para o show dos Los Hermanos.

IMPRESSÕES 3

Aplausos

O artista termina seu show em praça pública e colhe os aplausos. Graúdos, discretos, condescendentes, efusivos. Pega todos e coloca dentro do seu chapéu panamá. Mas pára, irritado, ao ver que alguém não lhe aplaude. Como ousa, pergunta. Quem és tu, um apenas na multidão, que não me aplaude? O silêncio lhe responde que é apenas uma estátua. Que acorda de seu sono de anos, dá as costas para o artista e sai andando. É a vez da multidão aplaudir messianicamente a estátua. Ao artista, resta a solidão. Eterno incompreendido.

Bohemias com os amigos jornalistas

Ontem foi uma noite agradável, bebendo (incontáveis)Bohemias com os amigos Cauê, Emiliano, Vitor e Gustavo. Galera muito gente boa que vai progredindo na árdua, mas apaixonante, carreira de jornalista esportivo.

Todos com causos para contar, fresquinhos das suas matérias no Lance!. Vitor e seu especial sobre a NBA, que sairá na edição deste domingo do Lance a +, Gustavo, que em sua idas ao STJD conversou com o mito Caixa D´Água e, mesmo tomando baforada de cigarro na cara, achou o sujeito educado, Emiliano e o furo sobre a venda do Carlos Alberto para Japão (recusada pelo próprio) que saiu na edição de terça do jornal.

Conversamos bastante, rimos, quase fechamos o bar e saímos felizes, bêbados (pelo menos eu), para casa.

quinta-feira, outubro 23, 2003

Seinfeld

George: I mean it's gotten to the point where I'm flirting with operators on the phone. I almost made a date with one.
Jerry: Oh, so there's still hope.
George: I don't want hope. Hope is killing me. My dream is to become hopeless. When you're hopeless, you don't care, and when you don't care, that indifference makes you attractive.
Jerry: Oh, so hopelessness is the key.
George: It's my only hope.



quarta-feira, outubro 22, 2003

Sobre o livro do Joca Reiners Terron

Apenas o autor poderia ter escrito Não há Nada Lá. É preciso que se diga isto antes de qualquer comentário. Repetindo, apenas Joca Reiners Terron poderia ter escrito Não há Nada lá. A frase parece óbvia, mas para quem costuma ler muito, não é. Afinal, muita gente que escreve bem acaba imitando, quase sem querer, o estilo dos seus escritores favoritos, desperdiçando o talento com pastiches.

Terron pensou bastante no seu livro. Pesquisou personagens históricos (como o poeta Torquato Neto, o Papa Pio XI, o escritor William Burroughs) e inventou outros para sustentar a trama. O livro corre com as páginas decrescendo, assim como o número dos capítulos, de 48 até 0, além de grafismos belíssimos, que ajudam a contar a história e a ornar a publicação.

O autor conta sete histórias paralelas, intercaladas entre os capítulos, que parecem ser independentes, mas que acabam convergindo para o mesmo ponto (seria a revelação do terceiro segredo de Fátima?).

Tirando o fato de achar que algumas histórias - das sete - estão muito mais interessantes que as outras - me afeiçoei ao dueto Fernando Pessoa e Alester Crowley, mas dormi nas partes de - pasmem - Rimbaud - me incomodei com três coisas.

Veja bem, o que me incomodou pode agradar outra pessoa, isso aqui é um blog pessoal, quero deixar isso claro. O livro é bom, original, em alguns momentos genial, mas três coisas me incomodaram. Feito o parêntese, vamos a elas:

1) não entendi porque o autor precisou apelar para um epílogo(?) em uma mesa de bar para dar um desfecho à história. Os 49 capítulos são bem amarradinhos, passam o que Terron quer, então para que aquele fluxo de pensamento realista em uma mesa de bar, estilo João Antonio, completamente diverso do resto do livro?

2) Terron coloca passagens desse epílogo final, em negrito, no meio de todos os capítulos. No início você até lê, tentando juntar informações, pensando “que original isso”, mas depois, ao perceber que aquilo não adiantaria nada e, certamente, entraria em forma de texto corrido alguma hora, você desiste, afinal, ler uma passagem sem sentido no meio de outra com sentido é meio maçante. A idéia é boa, original, mas no jeito que foi utilizada não cabe no livro.

3) Esse é um ponto de vista pessoal, mas não agüento mais ler livros de autores contemporâneos em que os personagens (ou o narrador) estão em estado alterado de consciência - maluco, drogado, bêbado etc.. Esse expediente é utilizado cada vez mais e, na minha opinião, acaba funcionando muito mais para tirar a credibilidade do narrador, dos personagens e do que está acontecendo na história do que como ferramenta criativa. Não sei se me fiz entender, mas muitos livros acabam ficando confusos - confusos mesmo - com a desculpa de que o que está sendo contado está sob efeito de algum tipo de entorpecente ou com a visão diferente daquela que tem um ser humano em "estado normal".

Repetindo, o livro vale a pena, a menção honrosa recebida no concurso Redescobrindo a Literatura da Cult, de 2000, é merecida, o selinho de obra perturbadora também, mas espero mais de Hotel Hell (que comprarei quando achar), pois Terron tem bastante habilidade com as palavras.

NBA

Para aqueles que não me conhecem muito bem, aviso que sou viciado em NBA. Por isso, lá no Blig Sports, onde escrevo semanalmente, trato geralmente de basquete. A temporada começa na próxima terça-feira, portanto esta é a última coluna antes da bola laranja subir.

Aí vai um trechinho do texto e o link:

"A NBA teve uma das férias mais estranhas da história. Grandes times ficaram ainda mais fortes, se reforçaram pensando apenas nesta próxima temporada. Pararam de brincar de planejamento, jogadores de futuro, e apostaram em estrelas, decadentes ou não, mas capazes de produzir já neste ano."

terça-feira, outubro 21, 2003

Não há Nada lá

O estande que mais me chamou atenção na Primavera dos Livros foi o da Ciência do Acidente. Talvez por não ter um número assim tão grande de livros, foi a única que os arrumou de modo simpático, expondo a beleza de suas capas e acabamento gráfico, ao invés de empilhar seus títulos de modo confuso e desordenado, perdendo assim a chance de mostrar com destaque os seus próprios livros.

A maioria, no afã de expor todo o católogo, escondeu os próprios livros, desempenhando o papel das estantes das livrarias de quem tanto reclamam. Divago, divago.

Aqui no Rio é raríssimo encontrar os livros desta editora. Não quis deixar passar a oportunidade de comprar um título da Ciência do Acidente e acabei levando um do Joca Reiners Terron para casa.

Estava indeciso entre dois do autor (Não há Nada lá e Hotel Hell) e acabei pedindo para a minha namorada decidir. Sabiamente ela escolheu Não há nada Lá, que, na verdade, era meu preferido, por ser anterior e mais difícil ainda de achar.

Bom, coloquei ele na fila dos "para serem lidos" e o terminei ontem de madrugada, após chegar do futebolzinho sagrado de segunda-feira. Não vou comentá-lo de imediato, pois ainda estou ruminando o livro, que, como está no selinho da capa, é uma obra perturbadora.

Ética?

Botafogo e Marília se enfrentam hoje pela Série B, em São Paulo, podendo empatar para conseguir a classificação para a fase seguinte. Será que teremos um jogo de comadres durante 90 minutos? Tenho dó dos torcedores de Remo e Náutico, coitados, aflitlos para saber se em São Paulo a bola estará rolando de verdade ou se com intenções espúrias.

Mas quer saber, ninguém poderá levantar a sobrançelha se Botafogo e Marília, no segundo tempo, começarem a não fazer força para sair de um eventual empate. A partida deles está na tabela e as duas equipes merecem se classificar para a fase seguinte, sem precisar jogarem pressionados na última rodada.

Eu acho que dá empate. Teremos que ver, porém, que tipo de empate será.

segunda-feira, outubro 20, 2003

Mara Coradello

A ótima notícia da criação da Revista Paralelos, que pretende mapear e apresentar os novos escritores cariocas, me fez correr atrás de seus autores. Não fisicamente, mas de quem são eles escrevendo, que é o que importa afinal.

Escolhi Mara Coradello como poderia ter escolhido outro autor, pois, na realidade, não conhecia seu texto. Mara (que, descobri a posteriori, tem um blog chamado O Caderno Branco de Mora Mey) lançou o livro Colecionador de Segundos, pela 7 Letras.

Comprei sábado e já li e reli. Não se impressionem assim tão fácil, pois o livro tem apenas 62 páginas. O colecionador de segundos é, como diria Vinicius, sobre o silêncio do depois, a espera pelo soar do telefone (do bom conto homônimo), dos não-encontros (neste ponto discordo do “orelhista” que fala em des(encontros)), da solidão em si mesmo.

“Deste amor contemporâneo sou ex. Desta mosca que percorre a ferida em beiras, prefiro mercúrio, júpiter ou outro planeta. Ouviu e entrou, o interfone estava quebrado e o portão era um convite. Queria vê-lo com outra igual a ela. Ou melhor, quem sabe outra.”
(trecho do conto Trillun)

Mara é uma boa escritora, daquelas promissoras, que, e isso é um elogio, melhora a cada relida, pois esconde o texto de leituras apressadas, reflete o ser individualista, carente, inseguro, angustiado, urbano.

Gostei!

domingo, outubro 19, 2003

EXPERIMENTALISMOS 1

Bocejos

Longe do refugio seguro de sua cabeça, sem a bendita intermediação da tela do computador, o novíssimo escritor sofre ao ler seu conto em voz alta para muita gente, menos gente do que esperava, mas consegue. Sim, consegue. Em um só fôlego, sem abrir as narinas para respirar, sem levantar a cabeça para assentir, comendo vírgulas, pontos finais e parágrafos, afoito, indefeso, consegue.

Colhe aplausos, passivos, educados, com apenas uma mão estalando na outra, não provoca cochichos, comentários, em branco, inerte, sorri, mesmo assim, cansado, músculos rijos, com a raiz do couro cabeludo suada, “tá quente aqui”, passa o microfone adiante, poderia ir para casa, mas fica.

Fica, refestelado na cadeira, isso, refestelado, olhando, ouvindo, observando, retornando a sua condição de escritor, aquele que observa, minúcias, nuances, tremores, relances.

Um bocejo o desafia, logo na segunda fileira, uma senhora, professora primária com dois livros de amor escritos e guardados dentro de sua gaveta, escondidos do novo amante, do ex-marido, ignorados pela irmã, rejeitados, em segredo, sempre, por duas grandes editoras. Boceja.

Bocejo. Bocejo não, bocejo não, pensa o escritor. Bocejo sim, bocejo sim. Bocejo sim, a estudante de letras, bocejo sim, o engenheiro de som, bocejo sim, o economista, namorado da jornalista, bocejo sim, a jornalista, bocejo sim, o vendedor de seguros, bocejo sim, o pai da escritora, que lê, cabeça baixa, comendo vírgulas, pontos finais e parágrafos.

Bocejo sim, a sala inteira, um grande bocejar, onda semi-silenciosa, educada, salutar, indefensável, prenunciadora, desmoralizante.

A novíssima escritora termina a leitura, levanta a cabeça, com a raiz do couro cabeludo suada, “tá quente aqui”, colhe aplausos, efusivos, é a última a falar, provoca cochichos, “vambora daqui”, comentários, “até que enfim”, e sorri.

Foi o melhor momento da vida dela. Juro.


sábado, outubro 18, 2003

Vida de Atleta

Os seis anos de treinamento.
As dores no ombro, a torção no joelho.
A pressão da família, da técnica.
O impulso decisivo, a corrida derradeira.
O salto sobre o cavalo, a dupla cambalhota carpada.
Os pés paralelos, o tronco ereto.
Aplausos, a nota 9,725.
O 2º lugar, o choro.
Finalmente, uma vida normal.


Plebeu e samba

Não demorou muito para tomar minhas primeiras Bohemias depois da criação deste blog. Eu e o Luiz fomos no Plebeu, para variar, beber nossas cervas de sexta à noite. Depois chegou o sambista-mór, Emiliano, que também é bom de copo, e, minutos mais tarde, a Bá.

Trocamos as Bohemias do Plebeu pelas latinhas de Skol do Lugar Comum, também em Botafofo, para escutar um samba. Pontos altos para o amigo do Emiliano, compositor que venceu na Mangueira, levando o samba da Estação Primeira no cavaquinho, e para a voz de uma menina chamada Elisa, que cantou bons sambas antigos.


sexta-feira, outubro 17, 2003

Ficções Fraternas

Terminei de ler o livro de contos que comprei no sebo na terça. Ficções Fraternas é um bom panorama da geração de escritores brasileiros que já entrou na casa dos enta (40,50,60), pois apenas dois dos 18 escritores são mais jovens do que 40 anos. Como todo livro escrito sob encomenda - e esse sem dúvida foi, devido à desnecessária inclusão da palavra fraterna na maioria dos contos - é bastante desigual.

Quem se sobressai, por incrível que pareça, são aqueles que apostam no feijão com arroz, mantendo os pés no chão sem tentar estrepulias que não são tão fáceis. Luiz Ruffatto, numa tentativa de linguagem, cai nessa armadilha. Cláudia Lage, com um texto loooongo demais, também.

Meus quatro preferidos são Marçal Aquino, Marcelino Freire, Cintia Moscovich e Rosa Amanda Strausz. Vale a pena a leitura dos contos, embora nenhum seja um estouro.

O que salta os olhos, ao meu ver, é o horrorosso conto da global Leticia Wierzchowski. Para que não ligou o nome a pessoa, foi essa moça que escreveu A Casa das Sete Mulheres, que, confesso, não assisti um capítulo sequer. A autora tenta narrar uma saga de uma família em cinco páginas, mas não consegue efeito algum. Não entra em nenhum personagem e vai dando filho, netos, bisnetos, jogando com relações e escolhas parecidas. Quem leu Cem Anos de Solidão fica até com pena da tentativa.

Isso que é sofrer por um time

Ontem fui dormir quase 2h da manhã. O motivo? Beisebol! O esporte americano é, geralmente, completamente anti-climático, com partidas sonolentas e regras complicadas. Mas ontem estava assistindo por um outro motivo, que não o puro fanatismo por esporte.

Jogavam Boston Red Sox e New York Yankees, jogo sete dos playoffs da divisão americana, série empatada em 3-3, partida sendo vencida pelo Boston por 5 a 2, com o seu melhor pitcher arremessando.

Traduzindo em termos futebolísticos, que assim todo mundo entende, o Boston estava com um pé na final do campeonato, ganhando por 2 a 0 aos 35 minutos do segundo tempo.

E por que isso é tão emocionante? Porque os Red Sox não são campeões desde 1918! Isso mesmo, 85 anos na fila. E, dizem os antigos, que trata-se de uma maldição, que começou em 1920 quando os Red Sox trocaram Babe Ruth, que viria a se tornar o maior jogador de beisebol da história com os Yankees, o grande rival e algoz na noite de ontem.

Botafoguenses, corintianos e palmeirense, que já passaram por estiagem longas, sabem um pouco o que é isso. Deve ser insuportável. Agora imagina um tabu ainda maior, de 95 anos? Existe, e também no beisebol, mas prefiro deixar quem se interesse ler no artigo escrito pelo amigo Vitor Sérgio Rodrigues no BliG Sports.

Ah, a maldição existe. Yankees 6 a 5. Mais um ano de fila.

quinta-feira, outubro 16, 2003

Devota leitora

Segura a Bíblia com a mão direita espalmada por trás da capa. Murmura cada palavra lida como uma prece, sem produzir nenhum ruído perceptível. Observo-a da fileira de trás, na diagonal, e sorvo cada palavra lida, tremida do lábio superior, contato da língua com os dentes. O ônibus balança, a prece cessa por alguns segundos e olho devotamente para os seios da menina que comungam.

Coincidência de nomes

O Corinthians protagonizou uma coincidência de nomes bizarra nos últimos dias. Saiu o Júnior e foi alçado o técnico dos juniores, que chama-se Juninho.

Pior que essa só o Flamengo, que no ano passado enfileirou Carlos Alberto Torres, Carlos César, João Carlos e, por fim, ainda flertou com o Carlinhos.

Sebos

Ontem à noite fui em um sebo na Buarque de Macedo, no Catete, procurar os Morangos Mofados, do Caio Fernando Abreu, que o Marcelo sugeriu como boa leitura. Tenho ido neste sebo até com alguma frequência, já que a Bá mudou para o bairro e sempre acabo comprando livros.

Logo na porta da loja colocaram um balcão com centenas de livros novinhos, das melhores editoras, por 10 reais. Coisa boa, como reedição de Rubem Braga, Veríssimo e muitos outros. Acabei levando dois: Ficções Fraternas, um livro de contos com nomes como Luiz Ruffatto, Marcelino Freire e Nelson de Oliveira e Idéias Para Onde Passar o Fim do Mundo, de João Almino.

Eu, como leitor, achei ótimo achar livros novinhos (um com copyright de 2002 e outro de 2003!) no sebo por 10 reais, mas tenho certeza que isso é desova da Record (editora dos dois livros) e não venda de particulares. Isso não importa muito para a grande maioria, é verdade, mas os pobres dos escritores com certeza não verão um centavo de direito autoral da venda de seus livros. Um deles, inclusive, está com o carimbo de venda proibida, exemplar promocional, o que, de fato, não entra no montante de direito autoral a ser pago.

Outro dia eu escrevo o que achei dos livros.

quarta-feira, outubro 15, 2003

Dois colunistas esportivos

Fernando Calazans, sobre o Vasco:

"O Vasco escolheu um cantinho da tabela de classificação, ali entre o 14o e o 19o lugares, e dali não sai, dali ninguém o tira. Acomodou-se, refestelou-se, aconchegou-se, e pronto. Não quer ser incomodado e, por sua vez, não incomoda ninguém.

A rigor, o Vasco nem parece que está disputando o campeonato. Ninguém sabe que ele entrou na competição e, quando sair, ninguém vai reparar. O Vasco está ocupando um plano tão secundário que ninguém nota sua presença, é como o figurante dispensável de um filme."


Tostão, sobre Júnior:

"Júnior não suportou o tranco. Após os 3 a 0 sobre o São Caetano, ele disse que ficou quatro dias com insõnia e emagreceu. O outro 3 a 0 para o São Paulo foi a gota d'água. Mas ele sabia que o time era fraco e só aceitou o convite para fazer um trabalho mais longo. Será que aconteceu algo que não fo revelado?

Se não houve, o fato demonstra a insegurança do técnico em assumir para valer a nova carreira. Há mais ou menos dez anos ele não decide se quer ser técnico ou comentarista...".


Calazans foi muito feliz nesta coluna. Após a conquista do estadual, o Vasco sumiu no cenário esportivo nacional (tirando o péssimo exemplo da surra nos jogadores do Coxa). Vendeu seus melhores jogadores (Pet, Marcelinho e Marques) e suas duas principais promessas (Léo Lima e Souza). Apostou em velhinhos (Edmundo, Donizete e Valdir), e num técnico que ainda não é técnico (Mauro Galvão) e vem fazendo um campeonato medíocre. Tem ganho seus pontos em São Januário, mas, agora que perdeu o mando de campo, as coisas devem complicar.

Já Tostão bateu com gosto - e acertadamente - em Júnior. O Capacete é um dos melhores comentaristas da TV, mas é um péssimo treinador. Os rubro-negros que têm boa memória lembram que suas passagens pelo clube como téncico foram pífias. Eu, por exemplo, não tive dúvidas e cravei, no bolão que participo, vitória do São Cateano sobre o Timão, em pleno Pacaembu, na estréia de Júnior

Rivellino deverá seguir os passos do amigo e acabará pedindo o boné. Porém, nem os 10 anos de experiência na Band o transformaram em um bom comentarista de futebol.

Novidade no Edifício

Vou postar aqui o primeiro parágrafo do conto homônimo do outro blog. Sempre que rolar novidade no Edíficio, avisarei aqui com um teaser do texto.

A empregada de Dona Teresinha, Aurora, uma mulata das mais escuras, fez campana na porta do edifício Primavera para convidar todos os moradores para a festa da patroa. A ocasião era especial, ela alertava aos condôminos, Dona Teresinha, já velhinha e doente, coitada, iria se matar no dia seguinte.

Leia o texto inteiro.

Feliz Ano Velho

Terminei de ler nesta terça-feira o famoso livro de Marcelo Rubens Paiva. Feliz Ano Velho é um livro bastante interessante, especialmente se analisado sob as condições pela qual passava o escritor - que ainda se recuperava emocionalmente do acidente que o deixou tetraplégico - e do país - no período da anistia, mas ainda com os militares no poder.

Acho que a maioria das pessoas da minha geração sabe quem é o Rubens Paiva, que ele sofreu um acidente e escreveu um livro famoso sobre a experiência, mas pára por aí. Ninguém leu nada.

Porém, sábado li na Folha (precisa ser assinante para ler a matéria) que ele estava lançando seu quinto livro, Malu de Bicicleta (Objetiva, 224 pp., R$ 27,90), o que me deixou curioso para saber se ele evoluiu como escritor. Deu também vontade de assistir a peça No Retrovisor, que esteve em cartaz recentemente aqui no Rio. O mote era os anos 80 e as recordações de dois amigos, sendo que um deles tinha ficado deficente - no caso cego -, o que me faz pensar se ele evoluiu como escritor ou parou no tempo.

Triste Fim do Flamengo

No meu texto desta semana no BliG Sports, site que reúne artigos de 14 jovens jornalistas, expressei toda minha insatisfação com a caótica situação do Flamengo.

Aí vai um aperitivo. Para ler todo o texto entre no link abaixo.

Oswaldo de Oliveira apareceu para o futebol brasileiro como o auxiliar de Vanderlei Luxemburgo que deu certo. Mas nunca deve ter batido um papo demorado com o ex-chefe, senão declinaria ao convite do Flamengo para dirigir sua tétrica equipe no Brasileirão.

Leia o texto inteiro.

terça-feira, outubro 14, 2003

Breve explicação

Mania de grandeza não é uma das minhas maiores características, mas ao invés de começar um blog vou abrir logo dois!

Explico: O Bohemias será um blog como muitos outros, com posts não muito longos, links, comentários etc. Já o Edifício Primavera, funcionará como um site com os meus contos e textos "literários". Simples, né?

Portanto, na sua ronda de blog, para os viciados que fazem, visite o Bohemias. Agora, quando tiver um tempinho para ler um texto mais longo, interessante, visite o Edifício. Aliás, ficou curioso pelo nome do blog? Pois visite-o que saberá o motivo.

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