terça-feira, julho 26, 2005
Eu, hein
Parece que o Dia de Escritor, 25 de julho, influenciou os parlamentares na CPMI dos Correios.
Para inquirir a mulher de Marcos Valério e relacioná-la a uma mulher de força, o deputado Onyx Lorenzotti, mais conhecido como plantação de fio de cabelos, leu um trecho de Érico Veríssimo, ligando a Renilda de Sousa a personagem Ana Terra.
Já o presidente, Delcídio Amaral, citou Anna Karenina, de Tolstoi, como desculpa para o ato falho da deputada Frossard, que chamou Renilda de Ana Karina (a secretária).
Parece que o Dia de Escritor, 25 de julho, influenciou os parlamentares na CPMI dos Correios.
Para inquirir a mulher de Marcos Valério e relacioná-la a uma mulher de força, o deputado Onyx Lorenzotti, mais conhecido como plantação de fio de cabelos, leu um trecho de Érico Veríssimo, ligando a Renilda de Sousa a personagem Ana Terra.
Já o presidente, Delcídio Amaral, citou Anna Karenina, de Tolstoi, como desculpa para o ato falho da deputada Frossard, que chamou Renilda de Ana Karina (a secretária).
quarta-feira, julho 13, 2005
Impossibilidades
Eu sempre ansiei pelo seu pedido de ajuda, afago, que nunca veio. E agora você está sozinha, isolada, sentada no cume de uma montanha olhando o horizonte. Espremendo-se em posição fetal procurando um conforto ancestral a vida, desejando regressar ao momento inicial da concepção, sonhando que a realidade regredisse, regredisse, até que seu amor por ele não tivesse existido, sua adolescência em um corpo estrangeiro não a tenha feito sofrer, sua infância entre duas casas num lar partido não tenha doído nos seus olhos negros de menina, seu primeiro choro não tenha sido por uma palmada, mas um sorriso de filha desejada. Você senta, se encolhe e espera que te levem, para qualquer lugar. Você chora sem lágrimas ou soluços e murmura palavras mudas de desculpas, perdão, apelo, principalmente apelo. Ninguém te ouve, seu nome vai se apagando aos poucos da memória das pessoas e das coisas, das árvores e dos amigos, do papel e das recordações de quem vive ou já morreu. Você espera que alguém lhe estenda uma mão e te puxe para baixo, para a ribanceira e rolando, rasgando, batendo, ralando, você enxergue no fim um sentido, uma voz, um consolo, que não vem. E daqui observo-te, dia após dia em todos os matizes de azul, tarde após tarde em disputas entre o vermelho e o rosa, e de noite, no negrume do céu que abdicou das estrelas, poesia desnecessária. Vou ao seu encontro, levo um cobertor, mas você não me reconhece, me esqueceu, assim como os outros te esqueceram, e pergunta sem palavras quem sou eu e o que quero, e renega o cobertor mesmo nas noites de frio mais frio, e desiste de notar minha presença, me expulsa com seu desdém. Velo por você mesmo assim, gritando alto e continuamente seu nome para o eco repetir durante toda madrugada-cinza, infinitamente, até que o sol nasça e que os pássaros cubram com seus cantos tristes o seu nome batendo na montanha e se espraiando na imensidão do passado que não foi.
Eu sempre ansiei pelo seu pedido de ajuda, afago, que nunca veio. E agora você está sozinha, isolada, sentada no cume de uma montanha olhando o horizonte. Espremendo-se em posição fetal procurando um conforto ancestral a vida, desejando regressar ao momento inicial da concepção, sonhando que a realidade regredisse, regredisse, até que seu amor por ele não tivesse existido, sua adolescência em um corpo estrangeiro não a tenha feito sofrer, sua infância entre duas casas num lar partido não tenha doído nos seus olhos negros de menina, seu primeiro choro não tenha sido por uma palmada, mas um sorriso de filha desejada. Você senta, se encolhe e espera que te levem, para qualquer lugar. Você chora sem lágrimas ou soluços e murmura palavras mudas de desculpas, perdão, apelo, principalmente apelo. Ninguém te ouve, seu nome vai se apagando aos poucos da memória das pessoas e das coisas, das árvores e dos amigos, do papel e das recordações de quem vive ou já morreu. Você espera que alguém lhe estenda uma mão e te puxe para baixo, para a ribanceira e rolando, rasgando, batendo, ralando, você enxergue no fim um sentido, uma voz, um consolo, que não vem. E daqui observo-te, dia após dia em todos os matizes de azul, tarde após tarde em disputas entre o vermelho e o rosa, e de noite, no negrume do céu que abdicou das estrelas, poesia desnecessária. Vou ao seu encontro, levo um cobertor, mas você não me reconhece, me esqueceu, assim como os outros te esqueceram, e pergunta sem palavras quem sou eu e o que quero, e renega o cobertor mesmo nas noites de frio mais frio, e desiste de notar minha presença, me expulsa com seu desdém. Velo por você mesmo assim, gritando alto e continuamente seu nome para o eco repetir durante toda madrugada-cinza, infinitamente, até que o sol nasça e que os pássaros cubram com seus cantos tristes o seu nome batendo na montanha e se espraiando na imensidão do passado que não foi.
terça-feira, julho 12, 2005
Preciso sair dessa letargia, desse vazio de uma vida que só caminha pela inércia, contraditória. De uma solidão quase absoluta. Sou um autômato; acordo, tomo café, trabalho nesse meu livro que nunca acaba e vejo tv. Não penso em mim, não penso no livro, no que é dito na tv, no jornal, sobre ele, ele e sua nova namorada, ele, o autor espetacular e perturbado, genial.
Sou um invejoso, confesso. Um invejoso consumado pela inércia fria das manhãs de inverno, de uma preguiça característica dos dias de chuva, de um não-fazer típico de quem tem mais um dia de prazo. Ele não: senta e escreve - não é grande coisa, bobagens, confissões, mas escreve. Usa uma terceira pessoa frágil, uma descrição quase em primeira, umas tiradas de humor, quase leva o leitor pela mão. Ele é bom no que faz, admito, mas o que ele faz em si é ruim, é flácido como a barriga de um gordo muito gordo, grosseiro como a voz de um bêbado simplesmente bêbado no ouvido de uma garçonete que escuta aquilo a noite toda, todas as noites.
Mas o que importa o que acho, se ele tem Melissa? Uma Melissa sem elã, imbecilizada pelo fanatismo com que devota sua vida a ele. Melissa de primeira dama, de princesa consorte, de namorada e amante do genial. Melissa cobre com seus passos a sombra dele, bebe seus defeitos sem fazer cara de azedo, maquia as fraquezas e dependências dele, dela.
Sou um invejoso, confesso. Um invejoso consumado pela inércia fria das manhãs de inverno, de uma preguiça característica dos dias de chuva, de um não-fazer típico de quem tem mais um dia de prazo. Ele não: senta e escreve - não é grande coisa, bobagens, confissões, mas escreve. Usa uma terceira pessoa frágil, uma descrição quase em primeira, umas tiradas de humor, quase leva o leitor pela mão. Ele é bom no que faz, admito, mas o que ele faz em si é ruim, é flácido como a barriga de um gordo muito gordo, grosseiro como a voz de um bêbado simplesmente bêbado no ouvido de uma garçonete que escuta aquilo a noite toda, todas as noites.
Mas o que importa o que acho, se ele tem Melissa? Uma Melissa sem elã, imbecilizada pelo fanatismo com que devota sua vida a ele. Melissa de primeira dama, de princesa consorte, de namorada e amante do genial. Melissa cobre com seus passos a sombra dele, bebe seus defeitos sem fazer cara de azedo, maquia as fraquezas e dependências dele, dela.
segunda-feira, julho 11, 2005
[...Teve vezes que poderia ter feito um pouco mais, sido um pouco mais para Luana. Levá-la até a porta do elevador e congelar o sorriso na janelinha até a caixa descer. Não conseguia. Ela sempre via a sensação de perfeição desabar com força maior do que a gravidade. O último olhar nunca levava um sorriso de recordação, e nem o primeiro, quando ela abria os olhos se espreguiçando com o corpo inteiro e o sentia do lado da cama quente. O primeiro sorriso do dia não tinha espelho. Felipe não conseguia devolver a felicidade sem explicação dos primeiros segundos da manhã.
Teve vezes que Luana chorou sem motivo e ele não soube dar um abraço calado, um carinho também sem sentido ou perguntas. Mesmo quando ela disse que ia embora, e chorou escondendo as lágrimas nos punhos amarelados, ele não disse nada, e isso sintetizou tudo.
No final era tudo sempre o fim próximo, a sensação trava-língua do que não dava mais certo, a desesperança de olhar para trás e ver um início promissor, as recordações felizes pululando em retratos e pixels, mas que dera errado em algum, vários pontos...]
Teve vezes que Luana chorou sem motivo e ele não soube dar um abraço calado, um carinho também sem sentido ou perguntas. Mesmo quando ela disse que ia embora, e chorou escondendo as lágrimas nos punhos amarelados, ele não disse nada, e isso sintetizou tudo.
No final era tudo sempre o fim próximo, a sensação trava-língua do que não dava mais certo, a desesperança de olhar para trás e ver um início promissor, as recordações felizes pululando em retratos e pixels, mas que dera errado em algum, vários pontos...]